Virei mulher de brigadiano





Vejam se a vida não é doida feito uma caçada de antílopes: adoramos ser psicólogos, juízes e advogados das vidas alheias, mas nunca conseguimos isenção suficiente para fazermos o mesmo em relação às nossas atitudes. Em se tratando de futebol, não muda nada. Todo torcedor, principalmente brasileiro, é capaz de tecer as melhores teses táticas e anímicas quando tem algum conhecimento e acompanha o esporte bretão. No entanto, quando se trata do time que torce, lá vem o lado passional e, com ele, a irracionalidade mandando a vaca para o brejo e torcendo o rabo da pobre porquinha.
Sou um rapaz polido, educadinho e de fala mansa. As pessoas costumam dizer que tenho muita calma e paciência, admiram essa minha suposta qualidade. Ademais, sou fã de futebol, é o esporte que mais me agrada discutir, assistir e analisar. Aí, vem o meu time, o Grêmio. Mal sabem todos que, no recôndito de meu lar, subo nas tamancas e incorporo o Blanka do Street Fighter dançando "cara caramba cara caraô" quando tem jogo do tricolor dos pampas.
Todo torcedor é assim, nos olhos dos outros é refresco. Porém, quando é a batata do nosso time que está assando, não há faculdade mental que aguente. Lembro bem do ano passado quando o Internacional foi eliminado da Libertadores pelo Fluminense. Por um acaso do destino, quis Deus que eu assistisse à partida na casa de meu amigo colorado Renato Rocha, este cidadão ímpar, colorado austero que sabe a escalação do Grêmio campeão brasileiro de 1981 do goleiro ao ponta-esquerda. Estávamos diante da televisão, além de nós dois, outros três colorados, Carlos, Lisandro e Marcinho, bem como nosso intrépido vizinho gremista Paulo, que acolherou-se por lá para assistir ao jogo e abriu a brecha para que eu participasse do convescote.
Pois bem, naquele dia o escrete vermelho foi solapado pelo matador Fred para desolamento total do dono da casa e de seus convivas colorados. Como visitante e analista isento daquela partida, mantive minha compostura frente à tristeza dos amigos, pois não sou de tripudiar sobre a desgraça alheia. Não foi o mesmo caso do Paulo, que fazia gracinhas a todo momento com a derrota colorada, testando a paciência dos vermelhos enquanto bebia uma cerveja bem gelada e tirava sarro das caras de tacho dos perdedores.
Eu, ao contrário, preferi a finesse do sarcasmo disfarçado. Nos minutos finais, pasmem, incentivei meus amigos para que não perdessem as esperanças! Ainda havia tempo para o empate, falei para que acreditassem na classificação! Por dentro, no entanto, minha alma ria incontrolavelmente diante do fracasso do co-irmão. Uma felicidade brotava de meu âmago futebolístico e regozijava alegremente pela queda do maior rival.
A roda do mundo girou e um ano depois lá estava eu, diante do televisor assistindo à decisão do meu Grêmio na Colômbia pela mesma competição. Mas, como o diabo sabe mais por ser velho do que por ser diabo, preferi não contar com a presença de amigos. Em rio que tem piranha jacaré nada de costas, meus caros. E não deu outra: assim como o Internacional em 2012, desta vez o Grêmio abriu as pernas para o Santa Fé e, diante dos meus olhos outrora esperançosos, jogou a pá de cal em cima da ânsia que todos os gremistas tinham em conquistar a América pela terceira vez.
Como debatedor de futebol sempre soube que as chances tricolores eram escassas. Não se via bom futebol, nem garra, ou um comandante com sangue nos olhos, premissas básicas para uma conquista continental. Barcos, como diria meu avô, jogou "pisado" mais parecendo uma garça manca; Dida, apesar das belas defesas, jogava com uma frieza que dava a impressão de estar numa fila de banco aguardando para sacar o FGTS; Werley mostrou que é melhor manco do que com duas pernas; e, bem, todo mundo odeia o Cris. Em resumo, apesar dos nomes de peso, não havia no Grêmio um escopo de time capaz de pôr a faca entre os dentes e sair desferindo golpes de relho nas ancas dos adversários.
O afã de um torcedor fanático, contudo, correu em minhas veias durante toda essa Libertadores. Somos todos cornos mansos que, apesar de sabermos que a mulher está refestelando-se sob os lençóis com o padeiro, fazemos de conta que não é verdade. E, sim, acreditei com todas as forças no título. Ora, se até os palmeirenses - que duelarão com a gloriosa Chapecoense no limbo da Série B em 2013 - acreditavam, por que não o Grêmio? Tenho de admitir que a voz rouca de Fábio Koff soava como uma canção de Louis Armstrong em meus ouvidos e, desde o confronto sôfrego contra a LDU minha torcida preferia imaginar "What a wonderful world", ou seja, que mundo é maravilhoso.
Perdemos, assim como eles perderam ano passado. Um dia é da caça, outro é do caçador. Assim é a rivalidade Grenal, que considera um título a derrocada do adversário. E é assim que vivo esta minha vida de gremista, feito uma mulher de brigadiano que, quanto mais apanha, mais gamada fica. Meu único consolo é ter assistido ao fracasso gremista solito, acolherado em meu canto e bem distante das risadinhas internas dos vizinhos colorados. Na grenalização das eliminações, pelo menos por enquanto, estou em vantagem. E dá-lhe, Grêmio!

3 comentários:

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