Arde sem se ver

Há muito tempo eu não pensava tanto antes de começar a escrever uma postagem. Tentei pensar em cada palavra, medir o valor e a expressividade de cada frase, cada palavra, vírgulas, reticências, pontos. Desisti. Precisei refletir um pouco para admitir que sentimentos não podem ser mensurados e só conseguem mesmo seu grau exato de expressão se descritos da maneira mais natural possível.
Outrossim, tenho consciência de que será um relato longo e, para alguns, até exaustivo. Portanto, não ficarei triste se muitos desistirem da leitura no meio do caminho, ou mesmo que não captem o sentido real do que tenho a dizer. Digo isso porque sei que as pessoas certas chegarão ao final tão saciadas destas linhas quanto pretendo estar ao digitar o último ponto.

Quando casei, em outubro de 2011, a vida me deu uma lição de afeto que eu não conhecia. Em consideração às amizades que construí através do blog, enviei por correio alguns convites a amigos blogueiros especiais, porém admito que não imaginava que alguém pudesse vir, seja pelos custos da viagem, calendário apertado e outros entraves logísticos. Pois, para minha surpresa, lá do Rio Grande do Norte veio minha amiga Élida para quebrar todos os paradigmas e materializar nossa amizade blogueira num vigoroso abraço e sua ilustre presença em meu matrimônio. Como eram muitos os convidados, mal pude trocar poucas palavras com ela e o carinho ficou eternizado naquele gesto que jamais esquecerei.
Há pouco mais de um ano, foi a vez de conhecer e abraçar a doce Maria Fernanda, que veio passear no Rio Grande do Sul e oportunizou um bonito encontro em Gramado: uma linda cidade que recebeu e selou o encontro de uma bonita amizade. Da mesma forma, foram momentos breves. Tomamos um café, conversamos o que o diminuto tempo nos permitiu, eternizamos em fotografia e guardamos nos corações a intensidade daquela hora especial.

Foi a própria Maria Fernanda quem fez com que eu conhecesse a mineira Ana Flávia. Ao contrário dos tantos amigos que fiz através de leituras em seus blogs, Aninha conheci num chat criado justamente para a elaboração de um blog em conjunto com outras pessoas. Resumindo a ópera, o dito blog nunca saiu do imaginário. Já o chat, este permanece diariamente até hoje. Junto de nós três, temos ainda a brilhante presença da recifense Luciana.
Com a frequência daquela inusitada conversa diária que tínhamos, passei a nutrir um apego incomum pelas meninas. Sem querer alongar na classificação, posso dizer que é uma amizade especial, rola por ali uma cumplicidade inata. Ao mesmo tempo, percebi que Aninha desandou a visitar meu blog por espontânea vontade, comentava textos antigos e demonstrava uma admiração carinhosa por meus escritos. E eu, que já conhecia Minas Gerais e carregava comigo uma admiração pelo jeito mineiro de ser, fui facilmente atraído pela meiguice daquela guria cheia de ternura.
De lá para cá, e isso já faz mais de um ano, nunca perdemos o contato. A conversa virtual continua diária, às vezes com pouca participação minha em virtude dos estudos, mas estamos sempre lá, atualizando as notícias e rindo um bocado. Falamos ao telefone algumas vezes, poucas com Maria Fernanda, que é envergonhada; nenhuma com a Lu, que não atende ao telefone e tem mais vergonha ainda; e várias com Aninha, minha professora de mineirês.
Bueno, em meio a tudo isso surgiu nas conversas o assunto do casamento da Ana e, em seguida, o convite. Senti naquele momento que poderia retribuir o gesto de Élida e, mais que isso, sentir o mesmo que ela quando saiu de sua terra para conhecer pessoalmente um amigo apresentado pela internet através da magia das letras contida em um humilde blog pessoal. Conjecturei com a Dani e decidimos: assistiríamos ao casamento da mineirinha.

Como o relato é longo, pularemos direto para sábado, o grande dia. É óbvio que eu teria alguns relatos curiosos e engraçados para contar a respeito de nossa viagem até Belo Horizonte e, principalmente, após o aluguel do carro no aeroporto e minhas aventuras pelo trânsito da capital mineira. Ou ainda dos táxis que pegamos para jantar cujos motoristas eram verdadeiros sósias dos saudosos Dicró e Tom Jobim. Até mesmo poderia relatar as peças que o GPS me pregou na tentativa de conhecer o Mineirão, tornando-me uma verdadeira pedra no meio do caminho (como diria o mineiro Drummond) nas ruas de BH levando buzinaços e uais de reclamação. Deixemos, porém, os detalhes para outro momento.
A magia propriamente dita aconteceu quando chegamos a Santo Antônio do Monte, cidade do interior onde ocorreu o casamento. Ao descermos do carro e adentrarmos a casa dos pais da noiva, percebi que nada mais seria igual a partir dali. Senti como se estivesse entrando na minha própria casa, essa é a verdade.
Em primeiro lugar, Aninha é uma princesa. Ainda que já conhecesse sua voz e até alguns de seus hábitos, Dani e eu tivemos um encanto imediato por aquela menina cheia de papel alumínio nos cabelos recebendo as visitas com tanto carinho, ao mesmo tempo em que disfarçava em vão sua ansiedade pelo enlace que se aproximava. Mesmo assim, foi como se nos conhecêssemos desde a infância, tamanha a naturalidade das conversas, dos gestos, das fotos. Fazíamos tudo com muita sincronia e despreocupação, foi como se tudo estivesse planejado para não haver plano algum.

Bem, até aqui tudo já estava muito lindo e perfeito pelo simples fato de ter conhecido e convivido com minha amiga no dia mais especial de sua vida. Aí, veio o suprassumo, ou seja, todo o resto.

Samonte é uma cidade típica de quem ouve falar no interior de Minas Gerais. As pessoas são humildes, hospitaleiras e amorosas. De repente, começou a chegar gente na casa dos pais de Aninha a torto e a direito, todos levando presentes e felicitações à noiva. Aquilo mexeu comigo, era um calor humano diferente. Em seguida, chegaram os colegas da faculdade numa van, desembarcaram todos e entraram em casa com uma naturalidade ímpar. Todos cumprimentavam e eram afetuosos. Dani e eu parecíamos cada vez mais à vontade com aquela esfera tão diferente do nosso dia-a-dia.
Antes de falar do casamento e encerrar dando minhas impressões finais, sou obrigado a escrever três parágrafos muito especiais. Os dois primeiros sobre os pais de Aninha. Dona Rita é daquelas mãezonas incríveis, sorria o tempo todo e, apesar de demonstrar o quanto queria nos agradar, em nenhum momento parecia uma atitude forçada. Carinho e simpatia naturais, próprios de quem tem a hospitalidade no sangue. E uma das melhores comidas caseiras que já comi na minha vida. O que senti ao lado daquela mulher asseguro que só senti até hoje perto de minha mãe e minhas avós.
E Seu Urias? O pai da noiva é um mito! Quando me despedi do povo antes de voltar para casa, o primeiro exemplo para usar em discurso que me veio à mente foi Seu Urias, um cidadão que transparece a bondade no olhar. Desde que o cumprimentei pela primeira vez, fui tratado por aquele homem com a mais pura ternura de quem tem a humildade correndo nas veias. A cada minuto, sentia arrepios com a incrível sensação de que aquela parecia a minha família em tão pouco tempo de convivência. Senti que Seu Urias zelava pelo meu bem-estar continuamente, desde o primeiro minuto até o último abraço. Algo inexplicável.
Além deles, quando chegamos à casa de Aninha havia uma menina perto da pia descascando legumes para o almoço. Jurei que fosse sua irmã mais nova, parecia ter uns catorze anos, não mais que isso. Era Dênia, a maior surpresa de todas. Quando Dani e ela se enxergaram, alguém nos céus deve ter mexido os pauzinhos e decretado que seriam, a partir dali, amigas de infância. Dênia transborda um adjetivo que ainda não existe e precisa ser criado. Mistura pureza, inteligência e avidez de raciocínio. Mãe zelosa da pequena Luísa, princesinha que nos encantou e certamente encurtou o caminho para encomendarmos nosso primeiro pimpolho. Talvez seja a tradução mais pura da palavra amizade, pois senti desde o primeiro minuto que diante de mim estava uma pessoa especial, merecedora de todo o nosso afeto.
Até aqui, tudo superava e muito todas as expectativas do passeio. Só que teve mais, macacos me mordam! Fizemos um sucesso danado com os mineiros. Desde o noivo, e que grande pessoa este Gabriel, cujas primeiras palavras ao me cumprimentar foram "estamos felizes demais por vocês terem vindo", passando pelos familiares e amigos, todos impressionados por termos deixado o Rio Grande do Sul para cumprimos nossa jornada e assistirmos ao casamento dos dois. Despertamos um sentimento generalizado de simpatia e fomos tão bem tratados que, juro, esqueci por alguns instantes que meu verdadeiro lar não era ali.

Que balanço posso fazer dessa viagem? Se existe algo maior que milagre, talvez seja a definição perfeita. A partir daqui tudo são suposições, pois tenho consciência de que as palavras não explicam e não dão a dimensão exata do que foi sentido e vivido tão intensamente em apenas dois dias. A missão de conhecer minha amiga Ana Flávia, que já era por si só um grande feito, tomou proporções imensuráveis diante de toda essa acolhida e dos momentos magníficos que passamos junto daquele povo tão amável.
O melhor disso tudo é a certeza latente de que voltaremos a Samonte. De uma hora para outra, sumiu por completo minha resistência a longas viagens e aquela impressão falsa de que tudo é difícil fora da terra da gente. Bem pelo contrário, posso afirmar com todas as letras que abandonei por lá um bom tanto do meu bairrismo e que o coração liberou um espaço enorme de apreço pela cultura mineira. Só não abandono o sotaque por uma questão de diversidade cultural.
A vida carece de sonhos realizados. Materializar um desejo significa tocar o abstrato, ir além das sensações e vivenciar cada sentimento em sua totalidade. Este blog já me trouxe tantas conquistas na vida, que já não duvido mais das minhas capacidades de relacionamento com as pessoas. Iremos novamente a Samonte, conheceremos Itajaí e Recife. O que antes era o elo de comunicação entre pessoas distantes agora é o cartão de embarque para aproximar a todos. A vida, acima de tudo, está melhor agora depois de Aninha, Dênia, Seu Urias, Dona Rita, Samonte e todos os abraços fraternos que recebemos por lá.

ASSV


10 comentários:

  1. Aaaaaaaaaah, que amor de texto!
    Fico encantada com essas atitudes, gestos que demandam grandes esforços, mas que no fim sempre valem a pena!
    Essa Ana Flávia, é muito especial mesmo!
    Sai gente de todo canto, pra ir abraçar esse encanto de mulher!!

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  2. Quando conheci o humor de Antônio, não imaginava a pessoa incrível que era, pois só me fazia sorrir.
    Ao longo desse um ano e poucos meses eu só vi crescer essa amizade tão linda e pura entre nós quatro! Amizade sem cobranças, que ardeu sem a gente ver! Nunca vi igual!
    Sabe, não sei o que escrever pois sei que nem todas as palavras desse mundo serviriam pra descrever tudo de lindo que vivi ao lado de vocês dois esse final de semana! Sei dizer que queria isso todo dia! Que queria mais esse calor humano mineiro-gaúcho-catarinense jundo!
    Não sei descrever Dani! Não sei descrever a luz que reconheci quando falei com ela no telefone e a simpatia dela fez meu coração encher de amor! Não sei descrever o que foi aquela homenagem com a camisa do Galo! Não sei descrever o que senti com o presente do casamento, sei que agora tenho um pedacinho de vocês na minha casa - pois já tinha no coração. Não sei te falar o que senti quando desceram do carro e me entregaram seus abraços mais sinceros e os sorrisos mais verdadeiros e puros dessa vida.
    Sei de uma coisa: o mundo seria melhor se mas pessoas fossem lindas como vocês.
    Se mais pessoas tivessem este coração enorme que vocês carregam no peito!
    Ton, Dani, sei dizer que queria vocês como vizinhos, porque agora vai ser difícil aguentar a saudade.
    Vocês vieram pra Minas e levaram consigo um pedacinho do meu coração, que agora dói de saudade desses sorrisos.

    Obrigado é pouco pra agradecer!
    Uma visita ao sul é o que faremos!

    Olha, amor a primeira vista!
    Apaixonei com cês doois!
    Cês são lindimais da conta!

    E eu não vou dar conta de ficar muito tempo sem nossas risadas juntas.

    Se cuidem, e voltem sempre!

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  3. eu simplesmente me emocionei com suas palavras!!! Vivi com a Ana tb esse momento ímpar e poder conhecer vcs dois (incluo aqui a linda Dani, sua esposa) foi mais que especial... Acho que vc conseguiu colocar nesse texto o sentimento de tds nós que fomos pra Samonte pra escrever mais esse capítulo da história do casal! Não vou esquecer jamais a piada que vc contou sobre mineiros e gaúchos, assim como tb não vou esquecer da pessoa maravilhosa que vc é! Abraços.

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  4. Uma coisa: Vocês entraram no carro e eu me despedi chorando. Por fora, e principalmente por dentro. Pois foi lindimais o que fizeram por mim e por Gabriel.
    Nem se eu vivesse cem anos conseguiria desrever.
    Amo, além dessas fronteiras que agora nos separam.

    Beijo mineiro nos dois. <3

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  5. Que lindo! Dá pra sentir daqui o tanto de verdade e amor que existe entre vocês. Que essa amizade, entre todos vocês, perdure por toda a vida, alimentando a alma de cada um com essas doçuras de encontros.

    Beijos.

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  6. Ton do céu! Que texto mais lindo!
    Realmente não dá para mensurar a emoção que você sentiu lá e nem dá para mensurar a felicidade que a gente sentiu daqui de ver vocês dois selando essa amizade bonita.

    A forma como você descreveu os amigos da Nana, os pais dela e toda a cidade dá uma vontade ímpar de ir correndo para lá e conhecer essa gente que parece especial demais da conta.

    Lindo lindo lindo lindo

    Beijinhos

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  7. Texto muito bonito, meu bruxo. Cheguei a me arrepiar.
    Com certeza a vida precisa dessas aventuras e de sonhos realizados.

    E que foto, ein? Tu tava de "farol baixo"... hehehehehe

    Abraço!

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  8. O que comentar quando desde o início do texto os olhos estavam arregalados para enxergam direitinho as palavras tão bonitas e o rosto esboçava um sorriso que só foi aumentando até chegar nas ultimas linhas?!!
    É muito lindo ver amizades que começam de forma tão espontânea e diferente ultrapassar barreiras de distância e temperar um momento tão maravilhoso, quanto o casamento, numa festa ainda mais especial! O amor tem disso de unir as pessoas cada vez mais.
    Acompanho o blog de vocês e desde quando vi a contagem dos cem dias no blog da Ana fiquei com os olhos brilhando e o coração desejando felicidades!!! Que Deus abençoe essa união de Ana e Gabriel e que ele proporcione cada vez mais proporcione momentos de amizade como estes!!
    Abraço!!

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  9. Coisa branca, que lindo!
    Olha, quando for ao Recife, você PRECISA conhecer Kari e a família dela, sério! eles sempre me recebem tãããoooo bem, me tratam com tanto carinho e humildade, que nem sei descrever.

    Mesmo não tendo mais o contato que tínhamos em, sei lá, 2007,08,09, o carinho é o mesmo!
    mesmo de tão longe gosto de te acompanhar e saber que você está bem, feliz e que continua tão faceiro e verdadeiro, Branquelo.
    Foi um prazer enorme te conhecer, conhecer a Dani (que é linda demais!), conhecer a Vó Dilma (FOFAAAA!) e, muito obrigada, por ter me feito conhecer D. Helena, mãe do Branquelo-Pequeno. Fiquei muito agradecida pelos meus dias no Sul.

    Obrigada pelo calor de sempre.

    *Ah, só pra constar: O Nordeste é lindo, vc e Dani não sabem o que estão perdendo. kkkkk

    beijaoo

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  10. Nunca vou me cansar de ler este texto! Nunca vou esquecer o que fizeram por mim! Vamos retribuir em breve meus amigos!
    Amo vocês. Dô conta dessa saudade não Sô. Aneeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeem.

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