Algumas recordações da infância são tão marcantes que é impossível esquecê-las. Lembro como se fosse hoje do dia em que minha mãe contou que estava grávida do nosso irmão caçula. Com doze anos nas ventas e a puberdade avançando a passos largos, já nem imaginava mais que a família pudesse aumentar com alguém advindo do ventre de minha progenitora. No entanto, em trinta de julho de 1998 o Papai do Céu mandou a cegonha entregar o João Gabriel em nossa casa. Ele chegou dentro de um repolho e foi lindo.
As circunstâncias da vida fizeram com que eu me tornasse um pouco pai dele e atuasse ativamente em sua criação e educação. Por conta disso, exultei diversas vezes ao vê-lo imitando algumas características minhas, ou mesmo aprimorando-as conforme a sua personalidade. Ainda não vivenciei a paternidade a partir de meus próprios gametas, e enquanto isso não acontece atrevo-me a dizer que meu irmão foi a criança mais linda que já conheci.
Uso o pretérito porque o guri já adentrou a adolescência há algum tempo. A puberdade também já o alcançou a olhos vistos e causa-me espanto o quanto sua voz engrossa a cada vez que apareço na casa de minha mãe para visitá-los. E olha que moramos a três quilômetros de distância.
Até a chegada do João Gabriel em nossa família acontecer posso dizer que não conhecia o amor entre irmãos. A pequena diferença de idade entre mim e Débora, nossa irmã do meio, fez com que tivéssemos atritos constantes durante a infância em virtude de nossas maneiras distintas de pensar e agir. Tal animosidade durou até o início de nossa fase adulta, e confesso que já havia perdido as esperanças de ser amigo de minha própria irmã. Minhas avós, em sua sabedoria, aconselhavam-me a nutrir amizade por ela e afirmavam que com o tempo nos tornaríamos grandes amigos. De fato, não erraram. Os anos passaram, amadurecemos, e hoje tenho minha irmã em mais alta consideração, torço pelo sucesso dela e sempre ofereço minha ajuda no que for preciso para contribuir com isso.
Aliás, muito desse amadurecimento se deve também à existência do João Gabriel em nossas vidas, principalmente na minha. O amor que cresci sentindo pelo meu irmão foi sempre tão forte e vistoso, que a certa altura da caminhada mostrou-me que seria besteira não dividi-lo também com a Débora. Além disso, os avós não erram. Tenho a mais plena convicção disso.
Pois bem, hoje meu irmão completa quinze anos de vida. Trata-se de um adolescente de hábitos discretos, curte seu entretenimento cibernético como qualquer outro, é viciado em video game e joga futebol. Guardadas as devidas proporções, consigo enxergar nele bastante do que fui com a mesma idade, o que me deixa bastante orgulhoso. Isso prova que contribuí com o seu desenvolvimento e dá um sentido ainda maior para a minha vida.
Olhando para o passado, sinto uma saudade danada de seus tenros anos iniciais. Todos estes anos passaram tão rápido, que às vezes parece que ainda o enxergarei correndo dentro de casa para contar apressadamente alguma novidade, ou assistindo ao Rei Leão III pela quadragésima quinta vez e decorando todas as falas dos personagens. Aqueles cachos loiros esvoaçantes sacudindo ao som de Ultraje a Rigor, músicas que eu punha para tocar nas tardes em que ficávamos sozinhos em casa e dançávamos como dois desvairados. Foi como se eu tivesse vivido uma segunda infância, e como foi bom!
Tá certo que o danado não leu meu livro até hoje, tampouco visita este blog. Aí está o lado desnaturado de nosso caçulinha. Dou o desconto pela fase da vida que ele atravessa, idade onde somos preguiçosos e um tanto descompromissados com o que é corriqueiro. Ainda assim, ele vendeu um exemplar do Que Momento para seu professor de Matemática, que também foi meu professor e da Débora. O que sabemos de cálculos devemos a ele, oxalá. De qualquer forma, é bem provável que meu irmão sequer leia estas palavras escritas a seu respeito por aqui.
Não importa. Lhes afirmo isso por dois motivos distintos: primeiro, porque o amo exatamente assim da maneira que ele é. Obviamente, fico possesso quando perco para ele no video game, mas todos sabemos que o discípulo supera o mestre. Ainda assim, após duas belas tentativas, meus pais trouxeram-no ao mundo com o que de melhor há na miscigenação do sangue de nossas famílias. Meu irmão é o cara!
E, em segundo lugar, porque estas palavras, ainda que também sirvam como homenagem ao nosso caçula, são principalmente direcionadas aos que por aqui passam e acompanham os meus dias, uns há tantos anos, outros há tão pouco tempo, quiçá alguma alma perdida pela primeira vez. É para vocês que eu quis redigir cada palavra deste texto, justamente para sacramentar este amor de irmão que me completa e faz de mim um homem melhor. Há quinze anos, Deus trouxe um grande presente para a minha vida, portanto nada mais justo que passá-lo adiante através de uma mensagem sincera e repleta de orgulho. Vida longa ao meu maninho.
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Lindas palavras meu Filho, realmente com certeza tu podes te considerar como um Pai para ele, e podes ter certeza que o que o João Gabriel ´pe hoje tem muito a ver com o que tu fostes para ele. Amo uito todos vcs. Beijão.
ResponderExcluirQue Momento! 15 anos já? Como o tempo passa... hehehe Parabéns para o João Gabriel e parabéns pelo texto. Abraço!
ResponderExcluirQue momento!!! Um dos melhores amor de sentir é o de irmão. Parabéns para o João Gabriel, e para você por ter sido um exemplo bom a seguir. Beijo!
ResponderExcluirSei bem o que é este sentimento. No meu caso, foi a união da sua relação com a Débora e com o João, em relação à Maria Eduarda.
ResponderExcluirEntre tapas e beijos mesmo. Mas hoje, ela vê em mim uma referência também e eu fico todatoda boba e orgulhosa de ser ela crescendo e ouvindo conselhos meus.
Este amor é maior do mundo, nos prepara para sermos pais e mães melhores. Acho né. Espero.
Felicidades pro João Gabriel (segundo nome dele é lindo demais né?!) e muitos sorrisos pra vida de vocês.
Beijão. :D