Que momento: Do bordão ao livro

Quando finalmente bati o martelo e defini que lançaria o livro com as crônicas do blog, a primeira coisa que fiz foi correr atrás de alguém que pudesse efetuar o trabalho de revisão. Primeiro, porque lendo minha própria obra eu dificilmente enxergaria todos os erros contidos nos textos escritos despretensiosamente em todos estes anos de vida blogueira. E, principalmente, para ter uma opinião externa e isenta a respeito da minha produção textual.
Contata aqui, procura ali e acabei conhecendo Sheila Mendonça, com quem passei a ter frequentes conversas via e-mail por conta do trabalho de revisão que, por sinal, foi bastante árduo. Basta imaginar uma carioca lendo histórias recheadas do mais puro linguajar macanudo e peleador para entender que a expressão "frio de renguear cusco" deve, provavelmente, ter fritado os miolos da pobre, entre tantos outros adágios campeiros que utilizei nas crônicas.
Dessa relação profissional amistosa acabei tirando duas lições valiosas para o meu début na literatura impressa. Os elogios rasgados à minha escrita foram a mola propulsora que me levou a acreditar que o livro de fato teria boa aceitação entre os amigos. No entanto, o maior aprendizado foi quando, num de seus e-mails, Sheila justificou uma determinada correção em uma crônica com o argumento de que, uma vez lançado, o livro não seria mais meu, e sim dos leitores, como se criasse asas e ramificasse intensamente as interpretações possíveis sobre o que lá estivesse escrito.
Passada a minha compreensão dessa teoria, na última quinta-feira comprovei na prática este ensinamento adquirido. Após onze anos passados da minha conclusão do Ensino Médio, voltei ao Colégio Santa Catarina, aqui em Novo Hamburgo, como autor convidado a participar da Feira do Livro organizada pela escola. É bem verdade que ainda perambulei por lá uns bons anos em função das atividades pastorais, até Jesus Cristo na Via Sacra interpretei por dois anos seguidos na encenação da Páscoa. Ainda assim, retornar nesta condição de escritor significou um momento pra lá de especial.
Foi um bate-papo descontraído e bastante informal com os alunos. Meus tempos de palestrante nos retiros espirituais enfim serviram para alguma coisa e, numa análise pessoal, acredito que me saí bem em mais essa estreia. Por via das dúvidas, levei minha mãe e meu irmão para assistirem e, assim, puxarem as palmas ao término da minha fala. O seguro morreu de velho, vocês sabem.
Contar a própria trajetória a um público jovem determinou, de uma vez por todas, que o livro realmente alcançou a previsão feita pela Sheila quando da sua revisão. O Que Momento! criou asas e, para a minha surpresa, fez de mim alguém a ser escutado, um indivíduo com uma mensagem a passar adiante. Por isso, todas as vezes em que fico algum tempo sem produzir um texto novo para o blog, entendo que meu compromisso com a escrita aumentou severamente após a publicação do livro, mesmo que eu não seja um Paulo Coelho da vida. E entendo, solenemente, que a bandeira dos blogueiros é justamente essa, a de comprovar que não é preciso ser nenhum Veríssimo para criar, imaginar e sonhar através das palavras.
Por último, não pude esconder o meu contentamento ao término da palestra, quando meia-dúzia de pequenos infantes formou fila à frente da mesa, papel e caneta em punho, apenas esperando um autógrafo meu. Mal sabem eles que, com minha assinatura e uma nota de dez reais compra-se um pastel e um refri nas melhores lanchonetes da região. Preferi guardar o segredo.
Na próxima sexta, visito outra escola de Novo Hamburgo para uma nova conversa com alunos. Pelas palavras trocadas com a professora que fez o convite, posso assegurar que será um baita momento. Mais detalhes serão publicados por aqui certamente. Faço questão de prestar este tipo de contas a vocês, amigos e leitores, incentivadores maiores e grandes responsáveis por todas as experiências inesquecíveis que estou vivendo em decorrência deste humilde espaço cibernético onde, há quase nove anos, partilho minhas peripécias. Aguardem!


PS: O título do post refere-se ao "criativíssimo" nome que dei à minha apresentação por total falta de experiência em batizar palestras.

3 comentários:

  1. Todo trabalhado na chiquesa hein seu Ton?! hahaha.. Noooossa, e ainda tem mais escolas pra visitar. Que demais!! Que momento MESMO! E, deve ser muito especial você entrar na escola onde estudou, mas dessa vez como escritor. Momento único e significativo, eu imagino.

    Lembro da Sheila, e lembro de você falando com ela, trocando as primeiras conversas, no Blogueiros. Era você não era? Gente fina, mas acho que perdi contato dela do twitter, porque a tinha numa outra conta, que desfiz.

    E parabéns e que venham muitas escolas mais (e daqui a pouco nem vai precisar mãe e irmão irem, não, haha). E ano que vem quem sabe Bienal?! ;)

    Beijos

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  2. Eu já disse no nosso amado #ASSV: QUE ORGULHO!
    Carrego uma felicidade imeeeeeeeeeeeeensa de ver a forma como você vem ganhando espaço e como teu livro vem alcançando asas e como as pessoas param para te ouvir. Tem noção de como isso é lindo? É claro que tem, é óbvio que sim, porque deve ser incrível sentir na pele essa vivência.

    Você é, de longe, um dos caras com a escrita mais admirável desse mundo. E não falo só em prol da nossa amizade e do intuito de manter uma boa vizinhança, mas digo pelos anos e anos e anos que te acompanho, porque sempre achei o máximo o jeito todo Antônio Bragança de Orleans de se expressar.

    Você merece todo o sucesso do mundo, Ton. Você merece que tua escrita gaudéria seja estudada nas escolas do país, como forma de mostrar o quão brilhantemente rico é o vocabulário da tua terra e como é lindo de ver a forma que você mostra as raízes que você tem com tua terra, com tua família e enfim.

    Torcendo por ti sempre e sempre e para sempre.
    Um carinho imenso de uma big fã,
    Fê.

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  3. Mas isso merece uma justa congratulação efusiva, sr. Antônio.
    Sempre que penso os entremeios para se publicar um livro, quase que desisto. Não faço ideia de como materializar tal ação, mas ao ver seu trabalho progredindo, fico muito satisfeito.
    Tenho certeza que suas histórias contribuem para os novos leitores e que, claro, serão parte da vida dos mesmos - esse é o princípio do livro - por todo o sempre.
    Desculpe por não ser um frequentador tão assíduo do seu espaço. Prometo domar o tempo e assistir a mais alguns dos seus espetáculos.

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