Perguntas que não querem calar

Passado o tempo regulamentar da gestação, chegamos ao que no jargão futebolístico chamamos de "depender dos acréscimos do árbitro". Para quem será papai em meio à Copa é praticamente inevitável confundir as duas situações, mesmo porque a barriga da Dani está uma legítima bola. A única diferença talvez seja meramente vetorial: enquanto nos jogos a bola tem que entrar, nossa ânsia é justamente aguardar a guria sair.
Confesso que esperava escrever mais durante estes nove meses de desenvolvimento da nossa bebê. No entanto, foi uma gravidez tão tranquila, que se eu viesse tirar algum sarro da minha esposa explorando as pequenas curiosidades que circundam o crescimento da nossa filha seria até uma injustiça. Até porque tudo se resume em dores nas costas, nas pernas, na própria barriga e até na zona do agrião, que certamente passará por bocados ainda piores se pensarmos que vem pela frente um parto normal e talicoisa.
Isso sem falar que a função do pai durante a gestação fica bastante restrita no que tange a sentir algo de fato. O cara fica meio alheio a todo esse desenvolvimento, ainda mais em se tratando de mim, índio velho grosso que nem cintura de sapo e sabidamente sem paciência para escolher roupinhas, sapatinhos e o modelo do berço. Noves fora, essas coisas eu traduzo em vestir, calçar e dormir. O mais perto que chego da sensação real de paternidade são as ecografias e os movimentos atuais, que sugerem que minha esposa esteja gerando um alien, tamanhas são as acrobacias que essa rapariga apronta ao vivo e a cores quando estamos aboletados no sofá.
Porém, como eu disse, a coisa está por se definir. Usando uma linguagem da esfera econômica, estou no aguardo de como se comportará a bolsa. Não pela queda, mas pelo rompimento. Segundo o que aprendemos no curso de gestantes - e, sim, foi muito legal a experiência de "aprender a ser papai" que os tempos modernos propiciam - é a partir da cachoeira de líquido perna a baixo que tenho de assumir o controle da situação e agir oficialmente pela primeira vez como pai de família. Atualmente, nossa rotina diária se resume em monitorar o momento em que a Lara decidirá vir ao mundo.
Enquanto isso, duas situações no mínimo curiosas aconteceram nos últimos dias, o que finalmente me motivou a sacudir as pulgas e voltar a postar. Os tempos cibernéticos não estão para brincadeira e foi preciso um choque de realidade para que eu me desse conta de que minha pequena rebenta nascerá numa época bastante distinta dos áureos tempos de minha infância, quando até para avisar o nascimento de uma criança aos conhecidos era preciso um bom tanto de paciência.
Há pouco mais de um mês, nasceu o filho de um casal de compadres nossos, o Joaquim. Fomos conhecer pessoalmente o futuro amiguinho da Lara e, antes de voltarmos para casa, tiramos uma foto com o pequenino para a posteridade. Alguns dias depois, nossa comadre postou a foto no Facebook e aí deu-se o banzé. Devido à proximidade da chegada da nossa filhota e como na foto o Joaquim ficou na frente da barriga da Dani, as pessoas começaram a curtir a foto imediatamente associando que já fosse a nossa pimpolha que tivesse chegado ao mundo!
Nas primeiras felicitações achei até graça. Só que, bem, dali a pouco as pessoas começaram a me chamar no Whatsapp - outra cômoda facilidade da comunicação atual, pra não dizer um vício - para perguntar se a Lara havia de fato nascido, ao passo que a foto ganhava curtidas e mais curtidas, os viventes dando os parabéns e, macacos me mordam, passei a temer que de repente batessem aqui na nossa porta para uma visitinha de cortesia. Fui obrigado a tirar outra foto, dessa vez da barriga da Dani, ainda o reduto atual da guria, e postá-la também na rede social para esclarecer o que as pessoas insistiram em não ler nos comentários que fizemos abaixo da foto: foi apenas uma visita ao pequeno amiguinho.
Passado o mal entendido e voltando à Copa, sexta-feira fomos a um churrasco com os colegas de trabalho da patroa para assistirmos todos juntos ao jogo do Brasil. Após o sufoco que os chilenos impuseram, finalmente pudemos comemorar a vitória suada e bebericar uma cervejinha, mesmo porque a Copa é inevitável e não sou eu que ficarei praguejando nas redes sociais como se isso resolvesse toda a corrupção que envolve a competição. Em outubro exercerei meu direito de cidadão e daí sim protestarei nas urnas contra o que considero errado. Até lá, é bola na rede, meus amigos, esteja ou não a Copa comprada.
Bueno, o fato é que em meio às piadas e comentários faceiros que fazíamos, os adultos do recinto esqueceram-se dos infantes que brincavam sorrateiros por perto e o papo descambou para o lado pornográfico da questão. Bastaram alguns minutos de atenção da gurizada para que, inocentemente, uma danadinha ligasse suas anteninhas de vinil e desferisse a pergunta sobre um dos singulares vocábulos repetidos diversas vezes pela gente:

- Pai, o que é "sexo"?

Foi como um soco no estômago no pai da guria. E eu, que não tinha nada a ver com o pastel, caí na gargalhada com a saia justa do cidadão, que ficou vermelho, roxo, azul e magenta, sem saber ao certo como reparar o deslize. Todavia, dez segundos após rir descontroladamente, caiu a minha ficha e também todos os butiás do meu bolso: ora, serei pai de uma menina!
E aí, meus amigos, é que a porquinha torce o rabo. O cerco está fechando e sei que, mais cedo ou mais tarde, terei de saber articular explicações convincentes às mais inesperadas e serelepes indagações que a mim serão dirigidas. E nem adiantará apelar para a cegonha, repolho ou qualquer explicação manjada. Os tempos são outros, o Google não está para brincadeira e a criançada já chega tinindo de esperta. Tenho ainda alguns anos para bolar as melhores respostas e aprender a manter a boca fechada quando a Lara estiver por perto.


5 comentários:

  1. Fiquei sem graça porque te chamei no zapzap. :(
    Sorry. :/

    E te prepara, que a Larinha tá que tá chegando com tudo!
    E nós estamos doidos para conhecê-la. <3

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  2. Resumo da ópera: Ton tá muito ferrado! Hahahahaha <3
    Mas essa Lara vai chegar com tanto amor. Que vocês vivenciem a chegada, a infância, as descobertas, as primeiras palavras, as trelas, com esse encanto, essa luz nos olhos (que pelas fotos vê-se o quanto estão felizes à espera dela).
    Linda vida pra essa família linda, Ton!
    Beijo em vocês!

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  3. Bom, eu li que era "Joaquim" e saquei que o parto não poderia nunca ter sido tão violento a ponto de mudar o sexo da criança, hehehe.

    To muito entusiasmado por conhecer essa pequena, só posso imaginar como tu deve estar. E, é claro: o Tio Marcus, assim que voltar pra terra tupiniquim, estará sempre lá para ajudar no que for, seja pra responder essas perguntinhas ou caçar de espingarda os marmanjos do mundo.

    Abraço!

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  4. Quando vi a dita foto, já tava sabendo do babado todo. Mas bem provável que estaria entre os muitos que felicitaram erroneamente. Povo não vê a hora da Larinha nascer, imagino vocês.

    Você vai ter tanta história pra nos contar depois que essa bebê nascer que vai ser impossível não querer ficar mais perto. Ansiedade define.

    Beijo

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  5. Bem vindo ao mundo dos pais e suas loucas preocupações!!
    Que a Lara traga muitas alegrias junto das perguntas curiosas e embaraçosas....rsrsrrss...
    Abraços.

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