Um belo dia resolvi mudar

 Já perdi as contas de quantas vezes pensei em reabrir esta caixa de textos e voltar a escrever algo que fizesse sentido, tanto para mim, quanto para os amigos leitores. Há uma série de cobranças e solicitações, sejam minhas, internas, próprias, sejam as de pessoas que em algum momento de suas vidas sentiram-se tocadas pela minha humilde produção textual. Pra ser sincero, sequer sei se ainda dou conta de conectar ideias que tenham qualquer relevância.

Os motivos para tamanha desconfiança são vários. O arquivo deste blog atualmente é uma espécie de compêndio de tudo o que um dia já fui. Desde um adolescente desprendido de coerência, sonhador, cheio de reflexões em ebulição que deu o pontapé inicial em 2004, passando por um período de crônicas, algumas bem interessantes modéstia à parte, que depois culminaram numa publicação em forma de livro (meu primeiro filho amado e jamais esquecido). A seguir, veio a fase acadêmica na qual diminuí drasticamente a produção textual, muito em virtude da alta carga de estudos, mas também atrelada a um certo desinteresse que aumentou tal qual um pequeno carocinho que multiplicou-se em velocidade tumoral assustadora.

Por fim, já quando não havia mais a menor vontade de dizer uma palavra ao mundo, ele próprio sofreu uma avalanche transformadora através do advento das novas redes sociais que trouxeram consigo os juízes, a patrulha, a polarização e a metralhadora de opiniões que desconsideram contexto, linha de raciocínio e, pasmem, a liberdade de expressão. Devo confessar inclusive que escrevo cada vocábulo destas linhas com severa atenção e cuidado, sob a suspeita constante de a qualquer momento resvalar numa casca de banana ideológica. Isto não é nada bom.

É fato também - e é muito, muito fato - que o amor pela escrita jamais morreu dentro de mim. Modificou-se acentuadamente, é bem verdade, mas aquela nesguinha de chama da vela acesa nunca pereceu. Ficava sempre aquela coisa de "puxa vida, algum dia preciso retornar". Hoje eu venho, aos 36 anos, com o dobro da idade de quando comecei, pai de um casal de filhos lindos, casado há uma década, a barba na cara iniciando os primeiros contornos grisalhos, retomar uma atividade que sempre me soou atemporal. Preencher linhas com sentimentos que me façam exercitar a criatividade e, principalmente, aliviar uma certa ânsia de colocar pra fora o que já não cabe dentro.

Com extrema cautela, um tanto espiado, retorno a este ambiente como se fosse uma casa velha empoeirada, repleta de marcas do tempo, para cujas paredes olho e enxergo quase toda a minha vida... parece até cena de filme. É preciso entender que está quase tudo diferente e que concatenar essa linha do tempo pode dar um certo trabalho. O Antônio que um dia habitou este reduto mudou, amadureceu, reviu conceitos, relações e formas de encarar a vida. Talvez seja muito chato para quem um dia me conheceu de outro jeito, mas talvez seja um barato. Fora que é sempre formidável, tanto voltar, quanto mudar.

Obrigado a quem nunca desacreditou.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Eu já estou ansiosa para acompanhar 😊

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  3. Nem acredito neste momento! E amei fazer parte do seleto grupo, achei chique e misterioso a forma de chegar aqui, bem sociedade secreta. Haha

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  4. Mas olha aí, que feliz surpresa! Acompanharemos, certamente.

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