SAUDADES DA QUERÊNCIA

Às vezes eu paro, fico olhando pras paredes, sem nada pra fazer, e me pergunto: o que ainda estou fazendo aqui? A essas horas, se estivesse no meu chão, no meu pago, certamente estaria descansando, ou me preparando para dormir, para encarar amanhã um belo dia de trabalho.
Ainda antes do amanhecer, escutaria o galo cantar pela primeira vez, despertando os primeiros passarinhos, que cantariam alegres, anunciando o novo dia. Despertaria em meio à serenidade, ao som sublime da natureza, e passaria uma água gelada na cara, dirigindo-me posteriormente para o galpão: estaria começando mais um dia de lida campeira.
Entre um afazer e outro, espiaria a paisagem pela janela do galpão, escutando o cantar de uma saracura, ou uma siriema. Caminharia por sobre a relva, pensando nas coisas boas da vida, observando as galinhas granjarem no monte de esterco, ou um casal de carucacas passar voando.
Mais à frente, estaria o gado pastando...Ao me enxergarem, os quero-queros fariam um alarde, como é de praxe dos sentinelas dos pampas. Escutaria uma vaca berrar, procurando seu bezerrinho deitado em algum lugar no pasto.
Logo enxergaria também a égua Rusilha, que soltaria um longo relincho, como que me saudando, para mais um dia perfeito.
Ao voltar-me novamente para casa, veria a fumaça do fogão à lenha saindo pela chaminé; minha avó fazendo o café...Cuscus, pão-de-casa, queijo serrano. Café-da-manhã reforçado, para enfrentar o dia de serviço.
Passarinhos das mais variadas cores, perfume de diversas flores. Araucárias, eucaliptos, o velho pé de carvalho...

Saudades...Eis que a música termina, e eu acordo para a realidade. Coloco mais uma gauchesca para tocar, mas dessa vez começo a lembrar, olhando para o computador, que ainda estou muito longe de tudo isso.
Ouço o barulho da televisão, da chuva batendo no asfalto, dos carros barulhentos, de todo o caos urbano, que ofusca a minha felicidade. Cada amigo na sua casa, meio de semana é assim, cada um com a sua vida. Quem sabe, se der tempo, a gente se vê no fim-de-semana. Mas é só um "quem sabe", até porque nem sei se terei vontade de sair de casa. Se tiver, será apenas para quebrar essa monotonia de ficar gastando os olhos na frente do monitor, pois o cérebro e o coração estão bem longe de toda essa confusão.

Amanhã, ao invés do galo e dos passarinhos, tocará o despertador do celular, que por pouco não será arremessado na parede. Ao invés de água gelada na cara, um banho de chuveiro. Ao invés do galpão, o escritório. Ao invés de espiar pela janela, espiarei o relógio, para ver quanto tempo falta para o fim da manhã. Sem quero-queros, sem carucacas, sem gado pastando. Barulho, apenas de caminhões carregando e descarregando caixas, gente falando (gritando) e telefones tocando o tempo todo.

Estático, em frente ao computador, certamente pararei alguns segundos, olharei para as paredes do escritório e pensarei: o que ainda estou fazendo aqui?

Ainda vou dar um jeito nisso...

0 comentários:

Postar um comentário

<< >>