MEU PEQUENO OSTRACISMO

Pois é, creio que falar da vida no campo não seja o assunto preferido por quem lê este blog, mas é o que temos para o momento. Enquanto eu não resgato a embocadura e não encontro temas mais interessantes, resta contar um pouco dessa nova experiência.
Lá se foram quase quatro meses. Pessoalmente, acho que o pior já passou. Já consegui ter uma idéia inicial do que ganhei e do que perdi com essa mudança, e creio que já adquiri uma estabilidade necessária para se ter uma vida longe da urbanização.
Após a chegada da energia elétrica, as coisas melhoraram significativamente. Banho de chuveiro, televisão e rádio à vontade, vídeo-game, enfim, acabaram as diferenças abissais da vida em Novo Hamburgo. De todos os citados, o chuveiro é o que eu mais celebro, já que me resta pouco tempo para aproveitar os outros.
O grande à parte é a vida social. Essa sim, foi um pouco prejudicada. Contudo, só sumiu quem não valia o sacrifício. Descobri que é fácil chamar alguém de amigo quando a convivência é diária, pois a pessoa está na sua frente todos os dias, não sendo necessário preocupar-se tanto com o bem-estar da mesma, que não foge aos olhos. Mas também descobri que ainda existem pessoas que sabem lidar com a distância, e conseguem ser amigos também com o coração.
O contato com a natureza é um privilégio. Despertar com o canto do galo, e não com o estridente celular tocando, é uma troca e tanto. Pássaros ao invés de buzinas. Ar puro ao invés de monóxido de carbono. Uma boa noite de sono ao invés de esperar a meia-noite para conectar à internet. Acordar cedo ao invés de tomar café olhando o Globo Esporte. Pelo menos para mim, uma vida de melhor qualidade.
Ganho pouco, mas gasto quase nada. Gosto do meu serviço e faço ele com alegria. Meu espírito materialista, que já era pequeno, diminuiu ainda mais. Dinheiro é bom, mas é só uma folha na árvore da felicidade.
Fiquei amigo da Saudade, e descobri que ela não é tão má assim. Com a tecnologia avançada, só não se comunica quem não quer. Falo sempre com minha mãe e minha namorada. Aliás, a Dani passa o dia todo dando toques no celular, o que me faz perceber o quanto ela pensa em mim. Mais do que um "cobertor de orelha", é um "cobertor de coração", coisa que só entende quem se entrega de verdade a um sentimento.
Colocando na balança, como bom libriano, vejo que meu saldo está bastante positivo. Até consigo dar risada quando fico sabendo que algumas pessoas transformaram minha vinda para cá numa verdadeira banca de apostas, tentanto acertar quanto tempo eu agüentarei nessa vida: três meses, seis meses, um ano.Pois é, também aprendi que não adianta querer que as pessoas não façam julgamentos a meu respeito, bem como eu aproveito para fazer os meus a respeito dos outros; basta não levar a sério, que tudo continua numa boa. E pensar que eu queimei um sem-número de neurônios à toa com esse detalhe tão bobo. Mas, tudo é aprendizado. Em suma, valeu à pena largar tudo pela realização de um sonho. Às vezes eu tinha a impressão de que estava fadado a ser infeliz, porém, bastou parar com essa conversa, que a infelicidade foi embora. Essa história de querer se encontrar é como esterco de vaca: quanto mais a gente mexe, mais fede.

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