UVAS SÃO VERDES; VERDES SÃO AS UVAS

É engraçado como, às vezes, a gente não se dá conta de que o tempo passa rapidamente. Então vem a vida e nos mostra que, de fato, ele nos devora, principalmente se não nos damos conta.
Entretanto, meu assunto não é melodramático. Pelo contrário, chega a ser hilário. Um amigo meu me contou que existe um gurizão que acha que eu sou algo parecido com "uvas são verdes; verdes são as uvas", ou seja, falo sempre a mesma coisa. Na hora, eu não entendi, mas, depois, acabei dando risada ao constatar que estou num estágio interessante de um ciclo.
Tudo começou na primeira série do Ensino Fundamental que, naquela época, ainda era o Primeiro Grau. Lembro bem que eu via os "grandões" da terceira ou quarta séries e pensava: "puxa vida, quando será que vou ser um grandão"? Vale lembrar que a escola na qual eu estudava tinha só até a quarta série, reduto daqueles que "comandavam".
Naturalmente, chegou o meu dia; fui para a quarta série e tive meu ano de glória. Contudo, ao chegar no Santa no ano seguinte, constatei que não era porcaria nenhuma. Ali, eu era apenas um pirralho de quinta série, insípido, insosso e incolor.Os "grandões", agora, eram os da sétima e oitava, pois eles podiam participar dos Retiros Espirituais da escola. A nós, restava escutar o recado do Retiro no interfone e invejar. E lá estava o Antônio, perseverante, crente que seu dia chegaria.
E veio a bendita sétima série. Contudo, antes mesmo de eu pensar que era o apse, descobri uma triste realidade: minhas colegas suspiravam de amores pelos "grandões" da oitava. Eu ficava escorado na porta, observando minhas colegas de risinhos e conversinhas enquanto passava uma verdadeira muralha da oitava série, de cabelos louros e sorriso colgate, enquanto me sentia um reles inseto. E pensar que, quando eu estava na primeira série, estar na sétima era praticamente ser um semideus.
Seguindo o ciclo, cheguei na oitava série. "E agora, quem poderá me deter? Vou aos retiros, as menininhas da sétima suspiram por mim (confesso que isso é mentira), o que mais posso querer"? Foi quando ouvi falar num tal de Segundo Grau, e meu mundo caiu.
Por mais que eu quisesse, não entendia como o conceito de "grandão" podia mudar todos os anos. Lá estavam eles, os playboys do Científico, verdadeiros iaques, búfalos e bisões, que me esmagariam com um simples peteleco. Restava apenas curtir a oitava série e esperar.
Mais ou menos um anos depois, adentrei a Hollywood do colégio: Segundo Grau, que logo mudou para Ensino Médio. E, novamente, percebi que havia bastante gente acima de mim: os armários dos segundos e terceiros anos. Me olhava no espelho e enxergava um moleque franzino, recém saído da oitava série, que nem bigodes tinha ainda. Já os novos "grandões" da parada eram barbados, gigantes e esmagadoramente populares.
Depois de um primeiro ano bastante movimentado, passei pelo intermediário segundo ano e, finalmente, atingi o cume. No terceiro ano, podia andar pelos corredores sempre olhando para baixo, descobri que era sensual e fui à desforra. Aproveitei muito, até que o fim do ano aproximou-se e caí na real: existia vida após o Ensino Médio.
No entanto, para minha surpresa, a faculdade não me cativou muito. Parece que me contentei com o fim da vida escolar, parando de falar mal dos caras que faziam sucesso acima de mim. Havia finalmente cansado de passar horas tentando achar um defeito no carinha que minha colega de classe gostava, só para provocá-la.
Foi então que comecei a perceber que o feitiço estava virando contra o feiticeiro. De fato, eu conseguia manter uma certa popularidade, o que me rendeu algo que eu não esperava: a inveja de quem estava abaixo de mim. Tudo isso culminou agora no "uvas são verdes; verdes são as uvas" e, vendo tudo isso, caio na gargalhada. Sim, o ciclo continua. Eu pensava que ser "grandão" era o máximo, que ser adulto e popular seria o topo da montanha, e agora me pego seguidamente querendo voltar aos meus 15 anos. Ingrata conclusão: além de ser um ciclo, o maldito é um círculo vicioso. Não tendo mais de quem sentir inveja, invejo meu irmão de 7 anos, que ainda tem toda a fase dos "grandões" pela frente.

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