COZINHANDO FEIJÃO

Ás vezes eu tenho vontade de estudar as relações humanas. Entender as pessoas, seus atos, seus pensamentos, tudo. Aí, eu fico bem quietinho, e a vontade passa. Ainda bem.
A linha da consideração que alguém nutre por você é muito tênue. Pode-se ir do céu ao inferno em poucos minutos. Uma palavra errada e caputz! Claro, essa é uma das óticas, e ocorre principalmente com amizades bastante próximas.
A continuidade também é fator dominante. Não há como negar que alguém que você vê todos os dias terá uma intimidade maior do que quem você vê uma vez por mês.
É como se cada um de nós fosse um grão de feijão. A cada vez que se vai cozinhar uma quantia, os que não prestam vão para um lado diferente dos que serão cozinhados. As pessoas têm critérios diferentes para selecionar. O que pode não prestar para um, de repente é o ideal para outro.
E, levando-se em conta que as donas-de-casa e cozinheiras selecionam feijão quase todos os dias (pelo menos minhas avós fazem assim), também nós selecionamos as companhias e relacionamentos a todo momento. Aquele que hoje é teu amigão do peito, com a perda da convivência pode tornar-se um ilustre desconhecido.
Para tirar a febre, basta encontrar o vivente na rua depois de muito tempo. Se depois dos cumprimentos iniciais a próxima pergunta for "e aí, o que anda fazendo?", é batata: a fila andou pra ti. É isso, ou perguntar da(o) namorada(o).
Quem está realmente com saudade, sempre apresenta uma surpresa nessas horas. Diz que sonhou contigo na semana passada, faz uma piadinha das últimas vezes que se viram, diz que lembrou de ti esses dias, coisas do tipo. Amigos são eternos alquimistas, sempre reinventando fórmulas para a amizade funcionar melhor.
Eu já fui mais chato com essas coisas. Ou melhor, eu era um cara extremamente chato com essas coisas. Mas, a amizade não é uma gaiola, e os amigos não são passarinhos. Todos têm o direito de voar, e certamente voltarão para cantar pra você, se os laços construídos forem fortes o suficiente.
Surpresas? Inúmeras e diárias. Com todo o aparato do qual dispomos para a comunicação, decepcionamos e nos decepcionamos todos os dias. Até pelo fato de a juventude ter perdido aquele ímpeto pelo contato pessoal. Um email, uma mensagem de celular, um recado no Orkut, um simples toque: fulano lembrou de mim. Tem seus prós e seus contras, não tenho como abraçar um dos lados e radicalizar. O negócio é ser natural e autêntico, como um grão de feijão. Nada mais simples e cheio de ferro para deixar qualquer coisa forte. Seja uma amizade, ou uma refeição. E vou terminando por aqui, pois já é quase hora do almoço...

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