CARTAS VELHAS

Ontem, enquanto escutava ansiosamente o meu glorioso Grêmio jogar, quase ganhei uma parada cardíaca. Passou o primeiro tempo, e nada de gols. Já não havia mais posição na qual eu parasse deitado. Quase surtei.
Para evitar uma hecatombe dentro do meu quarto, abri uma gaveta e dali tirei algumas cartas velhas que as traças ainda não comeram. Buscando aplacar minha síncope nervosa, comecei a relê-las.
Ainda bem que os remetentes colocaram as datas, só assim percebi o quanto o tempo passou. A maioria delas datava de 2005. Ali estavam explícitos todos os problemas pelos quais passei na adolescência e também as dores-de-cabeça que causei a muitas pessoas. Quando se está no olho do furacão, às vezes não enxergamos que nossas burradas refletem nos outros.
O mais curioso de tudo eram as promessas. Frases do tipo "eternamente amigos", "vou te amar pra sempre", "tu é um cara que quero ter sempre ao meu lado", enfim, essas coisas que alguns confundem com "bom dia".
Várias das palavras, devo confessar, mantêm-se até hoje firmes, intactas e muito bem cultivadas. Outras, nem tanto, mas também admito que tive culpa em fazê-las enfraquecer. Nessa hora, inclusive, fico pensando em quantas baboseiras eu já escrevi em cartas, haja visto a grande quantidade que escrevi de 2001 a 2005.
Quantas pessoas devem ler minhas palavras e logo após emitem um "pfff". Pecamos por assumir compromissos dos quais não temos a noção do tamanho. "Para sempre" é uma expressão muito forte. Se fosse hoje, eu substituiria por "que seja infinito enquanto dure".
Que coisa, né, apenas dois anos, tantas mudanças. Quanta gente passa pelas nossas vidas, marca e depois vai embora, sendo que alguns somos nós mesmos quem mandamos ir.
Além daquela meia-dúzia de cartas que li, tenho uma pasta abarrotada de papéis contendo juras de amizade, amor eterno e companheirismo acima de qualquer suspeita. Provas de que as palavras são armas capazes de nos apunhalar pelas costas quando registradas num papel. Meus próprios textos antigos, se formos analisar, são a maior prova de que 80% dos meus conceitos e julgamentos caíram por terra. Fazer o quê, né...
Atualmente, não tenho escrito muitas cartas. Aliás, não tenho escrito é nenhuma mesmo. Só textos, dos quais provavelmente darei risadas em 2009, isso se eu estiver vivo até lá. O futuro já não me importa mais tanto quanto antigamente. Talvez seja por isso que o presente está sendo tão proveitoso.
E as cartas são o passado. O registro de um tempo que foi e não mais voltará. A garantia de que vivi bons sentimentos que hoje não mais são cultivados. A referência para viver novos e intensos relacionamentos, mas dessa vez sem preocupar-se em escrever "para sempre" no final, e sim com que sejam aproveitados até o seu último minuto. Quem sabe, dessa forma, eles se tornem eternos...

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