NETO CORUJA

Familiarmente falando, o fim-de-semana foi deveras interessante, com destaque para o domingo. Libriano com ascendente em câncer, o instinto de zelo para com a família é uma característica marcante na minha personalidade. Tenho a bênção de ter meus quatro avós vivos, lúcidos e com saúde, algo digno de se levantar as mãos para o céu e agradecer todos os dias.

Meus avós paternos moram na cidade de São Francisco de Paula. Meu avô tem 80 anos (ainda que ele diga que são 79) e é aposentado do DAER. Minha avó tem 67 anos e é professora aposentada. Visito-os com freqüência, passei a minha infância inteira tendo bastante convivência com os dois. Temos, os três, uma admiração mútua e uma relação de sinceridade e muito afeto.
Enquanto meu avô é um homem dogmático, de pensamentos antiquados e moralistas, minha avó joga vídeo-game, faz academia, olha todas as novelas que passam na tv (às vezes assiste duas ao mesmo tempo) e lê o mesmo livro 2 ou 3 vezes no ano. A legítima prova de que os opostos se atraem.

Os avós maternos também moram em São Chico, porém no interior, a 20 km da cidade. Minha avó é dona-de-casa e tem 69 anos, enquanto meu avô tem 71 anos, é pecuarista e ainda não parou de trabalhar (lembrando que dona-de-casa também nunca pára, né).
Esses dois estão inseridos no maior sonho da minha vida, que é a fazenda. Tudo o que eu aprendi sobre lida campeira, foram eles que me ensinaram. Comecei a passar as férias no campo com 4 anos de idade e, de lá pra cá, criou-se uma simbiose que tempo algum jamais apagará.
Eles ainda acham que eu tenho 4 anos, principalmente minha avó, mas isso é um detalhe. Já o meu avô, mais do que uma pessoa normal, é um personagem folclórico. É dele que eu tiro inspiração pra contar as melhores piadas, as melhores imitações e os melhores causos. Tudo isso porque ele é engraçado sem querer: até hoje o vi contar apenas uma piada.

Falar dos meus avós é tarefa facílima, isso sim daria um livro. Quem sabe um dia, né? Mas o texto tem que continuar.

Essa breve (breve?) introdução serve para ilustrar o que contarei a seguir. Domingo, meu primo e grande amigo lançou um grupo de música gaudéria num CTG aqui em Novo Hamburgo. As avós dele são amigas dos meus avós maternos, e todos participam do grupo da terceira idade de São Chico. À base de convites insistentes meu e dele, lotaram um ônibus com o grupo e vieram prestigiá-lo.
A partir daí começa um dos momentos mais felizes da minha vida. Ver meus avós alegres, dançar com minha avó, vê-los dançando, dançar com eles me olhando, enfim, estarmos juntos num momento de diversão, foi algo que marejou meus olhos diversas vezes durante aquele dia, mas, para minha sorte, a grande quantidade de suor que eu liberei disfarçou a emoção.
Foi um dos momentos em que eu senti Deus mais perto de mim. Me sentia acolhido e acolhedor ao mesmo tempo, acompanhando meu avô até a sombra na rua, enganchando no braço da minha avó pra dar uma caminhada.
Família deveria ser tombada como patrimônio histórico. Se hoje me olho no espelho e vejo um homem, isso se deve ao esforço que minha família fez para que, mesmo em meio a tantos percalços, eu soubesse o caminho certo a ser traçado.
Muita gente nem chega a conhecer os avós, e eu, com 21 anos, tenho o orgulho de conviver com a experiência de cada um. Domingo eu percebi a dimensão da minha felicidade, e enxerguei a vida com outros olhos.
Aproveitar cada momento como sendo único. Viver cada minuto de felicidade, como sendo o apse. Valorizar cada sorriso e cada toque de carinho, como sendo a manifestação mais terna de Deus na minha vida. E viver essa emoção sem limites...

Um grande abraço!

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