SÓ O NECESSÁRIO

- Tem um tempinho?
- Sempre. Pode falar. Aconteceu alguma coisa?
- Eu preciso desabafar...
- Senta a ripa.
- Tá acontecendo de novo.
- Nem precisava dizer, dá pra ver na tua cara.
- Tanto assim?
- E mais um pouco.
- Deve ser o mês de maio se aproximando outra vez.
- Nós bem sabemos que não é.
- Ok, eu me rendo. É uma situação inusitada.
- Eu não mandei fazer aquelas promessas. Tu sempre morde a língua quando toca nesse tipo de assunto.
- Não é uma questão de prometer, e sim de auto-preservação.
- Teu problema é a velha ansiedade, essa mania de querer viver o abstrato com racionalidade.
- É por isso que eu gosto de falar contigo. Continua.
- Meu caro, nem tudo corre de acordo como pensamos, principalmente em casos como esse. Além disso, tá tudo mais do que positivo, dando certo de uma maneira que nem tu imaginava. A questão é uma só: paciência, rapaz. Até parece que o mundo vai terminar num só fim-de-semana.
- ...
- Se eu estivesse falando com um principiante, tudo bem. Mas, convenhamos, quantas vezes isso já aconteceu?
- Desse jeito, nenhuma.
- Como assim nenhuma?
- Acredite, dessa vez apareceu de uma maneira diferente.
- Tá, pois que seja. Mesmo assim, não dá pra ficar procurando chifre em cabeça de cavalo. Seja qual for a maneira que está acontecendo, querer tudo pra ontem é bobagem, ainda mais no teu caso.
- É, tu me conhece melhor do que ninguém mesmo.
- E não? Cada vez que tu vem aqui, eu vejo direitinho o que se passa. Meu velho, fica frio, pelo menos uma vez na vida. Tempo ao tempo, lembra? Agora é hora de curtir essa boa fase, de espalhar os sorrisos necessários e aproveitar ao máximo tudo o que a vida tá te dando. Do resto, tu sabe que Ele cuida, como sempre o fez muito bem.
- Bah, mas tu é bagual mesmo! Muito obrigado, mas agora eu tenho que ir.
- Ora, o que é isso, tu sabe bem que pode sempre contar comigo.
- Dá cá um abraço!

E a mãe entrou no banheiro e deu de cara com aquela cena engraçada e surpreendente. Ele mesmo se abraçando na frente do espelho.