APRENDENDO MAIS DO QUE VIVENDO

"Pra morrer, basta estar vivo", dizia um ex-chefe meu. Fui acordado sábado de manhã pela minha mãe com a notícia de que uma irmã da minha avó havia falecido. Estava inaugurado um fato pelo qual ainda não havia passado na minha vida: velório de parente próximo.
Só para variar, ainda me acontece isso em maio. Eu confesso que ainda não assimilei totalmente tudo o que vi e passei neste fim-de-semana. Passei a noite olhando para aquele caixão e tentando entender essa situação nova. E, mesmo vendo, ali, minha tia morta, ainda não me convenci de que não a verei mais.
A ficha começou a cair quando o caixão foi fechado, e mais ainda quando a enterramos. Ainda assim, a lembrança é muito viva, parece que voltarei a vê-la quando for a São Francisco novamente.
A morte em si não me judiou tanto. O que maltrata é ver a reação das pessoas, a tristeza de quem já estava percebendo a perda. Dá uma dó muito grande. A cada abraço que eu via alguém dar, meu coração apertava pela lacuna que estava sendo aberta na família.
Creio que a palavra mais correta para o meu estado é dizer que estou impressionado. Fico lembrando o tempo todo da minha mãe dizendo "morreu a Mema" e, descrente, fecho os olhos e recordo as diversas vezes em que prostrei-me diante do caixão, refletindo o contraponto da incredulidade com as lágrimas de quem estava à minha volta.
Como se faz para matar alguém, assim, de repente? Ou fica mesmo essa lembrança no íntimo de cada um? Se vocês já passaram por isso outras vezes, por favor, me digam se é isso mesmo o que se sente, pois eu fiquei bem desnorteado.
Saber que isso vai repetir-se outras vezes também assusta. Apesar de não ser um paranóico com relação à morte, não gosto de pensar que chegará a vez de outras pessoas na minha família, cada vez mais próximas, e que tantas noites ainda terei de passar acordado, sem saber o que pensar diante de um corpo sem vida.
A segunda-feira está aqui para mostrar que nada pára. Segue a vida, voltam todos às suas rotinas, e sabe-se lá como o cérebro se vira para processar um fim-de-semana tão doloroso.
Não chego a estar desolado, mas marcou. Tive consciência da nossa impotência diante de certos fatos, uma ficha que demorou mais de 21 anos para cair. Agora entendo porque os antigos passavam um ano de luto. Demora um pouco para que tudo volte ao normal, por mais que o resto do mundo exija isso de mim.
Bem, resta exercitar a tranqüilidade que demonstrei durante as quase 30 horas que passei sem dormir, e que agora castigam minhas pálpebras. Desejei tanta força para os outros, então agora usarei um pouco dela na minha caminhada.

Boa semana a todos.

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