O SAUDOSISTA (3)

Há algumas semanas, parei de vir para o trabalho de carro e voltei à velha vida de andar de ônibus. Nessas horas, o relógio é companheiro constante e, nesse inverno, o guarda-chuva também torna-se personagem importante nessa luta.
O primeiro ônibus que eu pego de manhã (e vamos aqui usar mesmo esta maneira errada de dizer "pegar o ônibus", como todo mundo diz) é o mesmo que usava para ir para a escola há anos atrás. O mesmo motorista, o mesmo trajeto, muitas pessoas ainda são as mesmas desde aquele tempo.
Hoje, ao entrar nele, enxerguei um grande parceiro daqueles áureos tempos. Foram quatro anos de convivência dentro do velho Vila Kunz. Ficávamos sempre por último na parada esperando, e ele demorava quase meia-hora fazendo o caminho até nossas casas, ou seja, dava tempo pra muita bagunça.
Histórias, temos aos montes. Ao longo destes anos, muitas pessoas estiveram conosco, mas eu e ele sempre permanecemos como os principais. Sentávamos no último banco e causamos muitos problemas aos cobradores. Alguns, mais esquentadinhos, tentavam nos xingar em vão.
Apreciávamos as belas gurias que entravam e saíam, inclusive fazendo amizades com algumas, tudo isso graças à nossa incrível cara-de-pau.
Agüentávamos os maus dias um do outro, conversávamos sobre a vida, combinávamos jogos de futebol e, principalmente, o assunto principal de qualquer estudante: a própria aula. Por sermos de turmas diferentes, dificilmente faltava assunto.
Agora, quando entro no ônibus, o velho motora me cumprimenta com um sorriso, provavelmente pensando o mesmo que eu: "é, o tempo passa...". Conversando com meu amigo e à medida em que rapidamente contávamos das nossas situações atuais, percebemos quantas coisas mudaram, o quanto as vidas tomam rumos diferentes, mas também dei-me conta de algo muito importante: sentados lá no fundo do mesmo ônibus, brincando e conversando como há 7 anos atrás, o espírito de guris e a parceria que os anos alicerçaram, essas coisas a gente não perde...

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