PROFETIZANDO

A noite do dia 23 de maio de 2007 não foi apenas uma noite comum. O sobrenatural mais uma vez pairou sobre o estádio Olímpico Monumental e levou o Grêmio a outra façanha histórica.
Enquanto a bola rolava em Porto Alegre, um bar de Ivoti protagonizava verdadeiras profecias que, tenho certeza, influenciaram cosmicamente no resultado da partida.

Para ilustrar o que contarei a seguir, voltemos no tempo.

"Carnaval de 2006. Praia de Rainha do Mar. Começo do Gauchão, Grêmio e Veranópolis se enfrentam. Em frente à pequena televisão preto-e-branco, algumas pessoas assistem ao jogo, entre elas Popins e Antônio.
Falta para o Grêmio. Evaldo preparado para fazer a cobrança. Antônio se desespera.

- Evaldo não, Evaldo não, Evaldo não...

Evaldo bate a falta e faz um golaço. Antônio comemora:

- EVALDOOOOOOO!!!!!!"


Pois muito bem, era um sinal dos céus, de que minhas habilidades proféticas estavam começando a se manifestar, ainda que às avessas.
Popins e eu chegamos no bar com 18 minutos do primeiro tempo. Nervosos, ansiosos, vibrando a cada lance e tentando de todo modo combater o frio que assolava, pois não haviam mais lugares na parte de dentro do estabelecimento.
Vendo que a partida estava truncada, eis que recorri ao meu santo protetor. Ou a todos eles. Havia feito uma promessa durante a semana de ficar sete dias sem comer carne caso o Grêmio passasse de fase.
Falta para o Grêmio. Tcheco na bola. Olhei para o Popins:

- É agora. Gol do Grêmio. O goleiro vai tomar um frango pelo meio das pernas.

E, negociando com o santo.

- Se isso acontecer, aumento para 10 dias a abstinência de carne.

Tcheco chuta, e gol. O goleiro engole um penoso. Popins me olha com cara de espanto e ri descontroladamente, enquanto eu comemoro o gol com gritos estridentes, feito uma siriema em apuros.
A partir dali, meu lado sensitivo aflora e, a cada escanteio, insisto na mesma premonição.

- Vamos lá. Teco, de cabeça.

Repeti isso a cada bola erguida na área do Defensor. Reforçando a profecia, aos 42 minutos, Popins desfere:

- O gol do Grêmio sairá aos 45 minutos do primeiro tempo.

Falta perto da área do Defensor. A bola sobra para Sandro Goiano, que toca para um jogador não identificado. Ele chuta, e faz o gol. Todos comemoram. Olhamos para o relógio: 45:00. E o autor do gol? Teco. Popins mais uma vez ri descontroladamente, alternando uma cara de pavor.
No segundo tempo, enquanto saboreávamos um xis filé, o tio do bar oferece:

- Querem uma "cassóssa"?

Risos, muitos risos. Ramón entra em campo, no lugar de Tcheco. Enquanto a alemoada insiste em gritar "caralho" e "filha da puta", prefiro profetizar:

- Ramón vai fazer o gol que classifica o Grêmio. De cabeça.

Já espantado, Popins prefere não duvidar. Mas, o jogo termina, e o gol não sai. Falhou a premonição. Será?
Nas cobranças de pênaltis, os escolhidos do Grêmio são Patrício, Lúcio, Douglas, Éverton e Sandro Goiano. O Defensor erra, a gente berra. A cada gol do Grêmio, uma síncope esbravejante. Eis que chega a quarta cobrança gremista. Se Éverton fizer, estamos na semi-final. Éverton? Perplexos, vemos na televisão outro jogador partindo pra bola. É Ramón. Ele marca, e o tricolor vence. Popins ri com um descontrole estratosférico, e fecha a noite com a seguinte frase:

- Te larguei!

E que venha o Santos. Os meus são mais fortes.

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