O SAUDOSISTA (4)

Abramos o Dia dos Namorados com uma piada extremamente infame, a popular PEI. Quando minha mãe a contou ontem à noite, meu primeiro pensamento foi: "isso TEM que ir para o blog amanhã", pois ela nunca conta piadas e todos estes fatores resumem-se na frase lema: "que momento"! E vamos à dita cuja.

O que uma impressora disse para outra?

- Este papel é seu, ou é impressão minha?


¬¬


E agora, voltamos à nossa programação normal.


No início, pensei em postar uma coisinha bem bonitinha do Carlos Drummond de Andrade e agradar a todos os apaixonados. Todavia, o saudosismo manifestou-se mais uma vez em minha inspiração, e esse clima romântico instaurado no ar (e no bolso dos namorados) me fez lembrar de um passo muito importante na minha vida "namoradeira": meu primeiro beijo.
O ano era 1997, mais precisamente no dia 6 de julho. Então aluno da sexta série, o amor brotava no meu infantil coraçãozinho. Pelo menos eu chamo de amor o fato de gostar de uma guria que nem usava sutiã ainda e não possuía uma curva sequer no corpo, a não ser a da cabeça, o que me leva a crer que as crianças amam com maior sinceridade que os adultos.
Fui disputar um campeonato de handebol naquela manhã fria de domingo, e ela estava lá, para me ver jogar. E não me perguntem que forças ocultas me moveram a participar de um maldito campeonato de handebol, pois eu não saberia responder. Nunca gostei de handebol, nunca soube jogar handebol, então por que cargas d'água eu levantei numa manhã fria de julho para jogar handebol? É, havia um ósculo na jogada.
Todos sabiam o que estava para acontecer. A única dúvida que eu tinha era exatamente como fazer. Nas novelas tudo parecia tão simples, mas o treinamento final com o travesseiro na noite anterior não teve tanto sucesso quanto o esperado.
Passara a quinta série toda apaixonado por ela. Eu e mais dois amigos. Meus melhores amigos. E daí entra outro detalhe que torna as crianças mais incompreensíveis ainda. Como que três melhores amigos gostam da mesma guria pacificamente? Freud deve explicar.
A questão é que eu era o escolhido. E, de repente, cai um bilhete em minha mão: "te espero na frente da biblioteca". Bom, aí temos um fato curioso. Pela primeira vez no lugar onde acontecia o campeonato, eu não fazia a mínima idéia de onde ficava a porcaria da biblioteca. Com uma vergonha do tamanho de uma baleia azul de perguntar a localização do lugar do encontro, saí a esmo à procura de qualquer vitrine que tivesse livros.
Não me perguntem como cheguei, pois disso eu já não lembro mais. Da parte do bilhete, minha memória pula direto para o derradeiro e incisivo momento. Eu e ela, ela e eu, nós dois, ali, frente a frente. E ponto. Fiquei paralisado. Seus olhinhos inocentes miravam os meus, à incólume espera de uma iniciativa minha, afinal de contas, também era o primeiro beijo dela.
Após aquela vergonhosa pane mental, uma força qualquer do Universo deu um safanão na minha nuca, jogando minha boca ao encontro dela, formando um verdadeiro entrevero bucal, labial, dental e afins, demorando cerca de 10 segundos para estabilizar o choque e, finalmente, aproveitar o que estava acontecendo.
Voilà! Eu tinha, enfim, beijado pela primeira vez outra boca. Adeus, travesseiro! Lembro-me como se fosse hoje dos primeiros instantes após aquele acontecimento. Ficamos ali, abraçados, contemplando o nada, ainda perplexos pelo salto dado nas relações amorosas.
Na semana seguinte eu briguei com ela, e nunca mais nos falamos. Fim.

Feliz Dia dos Namorados a quem pode aproveitar essa data. Eu poupei 50 reais. =D

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