QUEM ME VIU, QUEM ME VÊ

Vou poupá-los dos detalhes sórdidos, mas passei o fim-de-semana refletindo sobre minha curta jornada até aqui, e constatei que abruptas mudanças ocorreram no jeito de ser deste que vos escreve.
A essência, digamos assim, não variou muito, já que certos valores morais não flexionam-se tão facilmente. Contudo, a maneira de agir em vários aspectos modificou-se a olhos vistos. Não é à toa que, seguidamente, alguém tem o prazer de me jogar na cara que eu dei o braço a torcer sobre algum dogma que eu defendia com unhas e dentes.
Aliás, comecemos por aí. Eu era o cara mais xiita da face da terra. Voltar atrás em algum conceito não era nada normal na minha personalidade. Pedir desculpas, então, privilégio de poucos. Perdoar, menos ainda. Lembro sempre que, quando havia alguma atividade onde os outros precisavam citar algum defeito meu, a teimosia sempre encabeçava a lista. Aliada à minha infantilidade, muitos foram os prejuízos sofridos por conta de ser turrão. E eu ainda achava o máximo ficar intrigado com alguém, guardar rancor, essas coisas.
Sair à noite era quase uma blasfêmia. Sabem aqueles desenhos animados, onde a criaturinha gruda-se na porta com as unhas, e os outros puxam-lhe os pés para tirá-la de dentro de casa? Pois é, funcionava mais ou menos assim.
Outra coisa que eu tinha demais: preconceito. Macacos me mordam, como eu era sujo nesse sentido. Penso que todos nós carregamos um pouco disso ainda, temos muito a melhorar, mas eu exagerei muito nas doses. Como disse antes, vou poupá-los dos detalhes sórdidos.
A bem da verdade, eu penso que canalizava minhas qualidades para uma direção errada. Desperdiçava meus talentos em detalhes ínfimos, e deixava de aproveitar muitas coisas que minha adolescência oferecia.
De uns tempos pra cá, eis que o advento ocorreu. Rompi os grilhões de muitos dogmas e radicalismos e, mesmo sem perceber, passei a mudar para melhor. E, nossa, como me faz bem cada vez que vejo que melhorei em algo. Eu me olho no espelho, bato nas minhas costas e digo: Que momento!
Tá certo que a vaidade ainda me acompanha. Pra ser sincero, ela até aumentou ultimamente, mas faço o possível para não parecer um cara arrogante, mesmo porque eu não sou mais do que ninguém, né?
Onde melhorei efetivamente? Bem, a paciência foi uma das primeiras virtudes que comecei a trabalhar com eficácia. Entender que certas coisas não mudam imediatamente, por mais necessário que seja. Respeitar as individualidades, as discordâncias de opinião, me afligir menos com o que os outros pensam a meu respeito e julgar menos as atitudes alheias. Tudo isso representa 70% menos problemas na minha vida.
Isso se aplica também a aprender a ser criticado, ruminar as palavras alheias e engolir somente o que presta. Todos devíamos usar uma espécie de filtro sobre o que ouvimos, tenho certeza que muitas vias de fato seriam evitadas.
Muito me orgulhou ler na carta que minha mãe mandou no retiro que ela admira meu auto-controle, minha calma e organização em tudo o que eu faço. Mal sabe ela que muito disso aí tem o exemplo dela como base.
Sinceramente, não sei se é a fase adulta se aproximando, ou se finalmente algumas fichas caíram (ou as duas coisas), mas o fato é que essa maleabilidade me trouxe somente proventos, mais amigos e a admiração das pessoas.
Atingir a perfeição? Não me interessa nem um pouco. Prefiro seguir continuamente aprimorando minhas qualidades, tentando conter os defeitos, pois tudo isso requer a convivência com as pessoas e a troca de experiências, algo que me agrada muito cultivar. Não há como melhorar, senão melhorando a vida dos outros antes. É no sorriso de um amigo que eu percebo uma qualidade minha. Plagiando a Globo: amor ao próximo, passe adiante. =)

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