RELATO DO FERIADO - PARTE 2

Já passava das 20 horas quando cheguei na fazenda sexta-feira. É impressionante a paisagem noturna do campo, límpida, iluminada somente pelas estrelas e alguns saltitantes vaga-lumes. Quando desci para abrir a porteira, olhei pro céu e, embasbacado com tamanha perfeição, pensei nos meus amigos do coral, pessoas que me fizeram enxergar a vida com mais simplicidade e intensidade. Que momento.
A essas alturas, já recuperado do dia traumático que tivera, e auxiliado pela deliciosa comidinha da vovó, dormi um sono profundo, acordando cedo no...


Sábado, dia 8: não basta ser médico, tem que ser veterinário.

Pulei da cama às 6 da matina para ajudar meu avô na lida. Em setembro começam a ocorrer os nascimentos com absurda freqüência, o que requer atenção redobrada no serviço. Foi uma manhã movimentada e alegremente cansativa, já que nada é melhor para mim do que cansar fazendo aquilo que mais gosto. Como disse minha avó, descansei a mente e botei o corpo velho na labuta.
O fato mais interessante do dia aconteceu no início da tarde, quando meu avô interrompeu minha sesta após o almoço para pedir ajuda num procedimento deveras pitoresco. Chego na rua e constato: é hora de pôr a mão na massa. Ou melhor, na placenta.
Eis que a vaquinha não tinha dilatação suficiente para ganhar seu filhote, necessitando da ajuda humana para parir seu primeiro rebento. Lembro que, quando eu era pequeno, sonhava com o dia em que faria meu primeiro parto bovino, pois escutava as histórias de meu avô e não conseguia vislumbrar o ato em si.
Agora já me soa com mais naturalidade puxar o bezerrinho de dentro da vaca. Acreditem, é menos nojento do que o ônibus lotado que mencionei ontem, pelo menos na minha modesta opinião. Tá certo que aqueles quilos de placenta, litros de um líquido que mais parece sopão Maggi e toda a sorte de porcarias que saem de dentro da vaca não são algo que se diga, nossa, isso no feijão fica uma delícia, mas não é nada que o sabonete não possa limpar depois.
Pois, nasceu o bichinho. Em poucas horas, já andava saltitando suas patas molengas e arriscava os primeiros passos em direção à primeira mamada. Nesse ponto eu invejo os bovinos. Já nascem andando, pastam com poucas semanas e logo viram-se sozinhos, ao contrário de nós, que, além de nascermos todos com cara de joelho, padecemos meses usando fraldas e tendo que chorar esganiçados quando queremos algo. Pra aprender a falar, é outro parto. Os bezerros só fazem "muuuuuu", e pronto, a mãe deles entende. Barbada.
No resto do dia, continuei o serviço, consciente de ter feito minha boa ação do dia trazendo ao mundo mais um ser vivo e fui dormir em paz.


Domingo, dia 9: volta pra casa e um belo encerramento.

O dia começou exatamente igual ao anterior, com a diferença da ausência de partos. Segui ajudando meu avô na lida e, à tarde, voltamos pra cidade, onde encontrei minha progenitora adorada e visitei mais alguns parentes.
No fim do dia, retornamos ao caos da urbanização. Nessas horas, o sentimento que me acomete é parecido com o do Marquinhos, quando todos vão embora da casa dele: bate um vazio, uma sensação de "por que diabos estou voltando?" e a vontade imensa de retornar o quanto antes.
Há um tempo atrás, eu sempre ficava uns dias triste depois da volta. Mas, eis que, novamente, meus amigos do coral modificam mais uma característica deste indivíduo que faz tec-tec no teclado e vos escreve estas palavras.
Ao invés de ir direto pra casa, dirigi-me à residência do nobre colega blogueiro Marquinhos, história que ele inclusive já adiantou em seu espaço. Lá ocorreu mais um encontro de poucas, mas importantes pessoas e, curiosamente, dessa vez o violão foi substituído pelos jogos de tabuleiro, que nos renderam boas risadas e um divertimento indescritível.
Muita gente reclama do seu fim de domingo, que é chato, monótono, sem nada pra fazer. Pois, pelo menos uma vez, posso dizer que meu domingo terminou da maneira mais perfeita que poderia ser, em harmonia com gente interessante e que realmente vale à pena chamar de amigos.
E este foi o meu feriadão de sete de setembro. O que alegra é que, daqui pra frente, outros feriados virão, o que acelera o término do ano e nos coloca naquela correria habitual que sempre acontece. Sendo bem aproveitado, tá tudo certo.

Um abraço!

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