Da Arte de Amar

“(...) Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.(...)

(...) Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.(...)

(...) Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica. Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.(...)”


Retirei estes três trechos de um texto do Carlos Drummond de Andrade, cujo título é Reverência ao Destino, e foi postado essa semana pelo Jader no blog dele. Após ler, considerei tão perfeito, que me obriguei a colar no meu perfil do Orkut, só pra poder ler diariamente e refletir a respeito.
Como, aliado a isso, o amor está no ar, comecei a dar mais atenção para os trechos destacados, que falam incisivamente de amor, relacionamentos, etc.Vale também amor entre amigos, algo que, felizmente, vem sendo também muito cultivado nos meus dias atualmente.
Não sei bem o porquê, mas amor é um sentimento que costuma assustar as pessoas. Vejo muita gente que resiste em dizer que ama, como se houvesse um bloqueio em assumir que sente. É aquela história do “eu te aaaaaa... (daí tranca)... eu te gosto”. A única razão que enxergo para isso é o compromisso que amar alguém desperta. E aí, meus caros, a porquinha torce o rabo, porque a maioria foge de compromisso, como o diabo foge da cruz.
E nem falo de namoro, casamento, esses relacionamentos que envolvem formalidades, mas até mesmo um amor de amigo, que exige responsabilidade e zelo, é difícil de assumir. Cientes de que somos eternamente responsáveis pelas pessoas que cativamos, fica mais fácil manter uma certa distância para, em caso de incêndio, dar tempo de escapar por alguma janela.
Por outro lado, há a banalização do amor. É um tal de “eu te amo” pra todo lado, que chega a provocar náuseas. Tem gente que ama o cachorro, o cobrador de ônibus, o vocalista da banda preferida e seu amigo da internet, que conheceu há cerca de meia-hora. Ora, nem tanto ao céu, nem tanto à terra, falta um pouco de equilíbrio em certos corações. Assim como o amor é sério a ponto de causar medo de senti-lo, não se pode também tratá-lo como um cartão de visitas, onde basta discar um telefone para atingi-lo em sua plenitude.
Em primeiro lugar, amor requer cuidado, paciência e tempo. Não há como gostar de alguém que não conhecemos direito e que não desperte em nós a vontade de estar perto daquela pessoa, importar-se com ela e aceitar suas particularidades. Respeitar as diferenças, os maus momentos, os gostos diferenciados, tudo isso requer um exercício de auto-conhecimento muito grande, para que saibamos até onde vai nossa capacidade de amar verdadeiramente.
A partir do momento em que, não importa o que o cidadão faça, ainda assim conseguimos olhá-lo com ternura, aí sim, pode-se dizer que ama. E é aí que entra outra palavra, que se chama perdão. Lidar com seres humanos falhos implica em conviver com burradas, percalços e atitudes que muitas vezes nos desagradam e decepcionam. Perdoar é uma atitude que só quem ama consegue exercitar, devido ao grande esforço que se deve fazer para esquecer algo que nos machucou profundamente. Isso, inclusive, pode ser assunto exclusivo para outro dia.
Outro ponto que considero importantíssimo dentro do amor é a entrega. Há muitos que amam, mas o fazem apenas se receberem algo em troca, o que é, no mínimo, um desrespeito às diferenças. É preciso saber que nem sempre o outro consegue retribuir um sentimento da mesma forma que o damos. Há pessoas mais quietas, reservadas e que não externam com tanta facilidade o que sentem, ainda que o sintam.
Entregar seu amor para alguém assim é um ato de extrema coragem, mas que certamente traz recompensas a longo prazo, pois a pessoa que é amada, com o tempo, sente-se à vontade para também abrir seu coração e confiar em quem apostou nas suas qualidades.
Estamos na fase do “quem muito abraça, pouco aperta”. Legal é ser amigo de todos, estar sempre rodeado de gente, mas tudo muito superficial. Pessoalmente, tenho uma facilidade muito grande de me relacionar, graças a Deus, mas sempre procurei eleger minhas prioridades e, ao passo que parei de prometer amor eterno para Deus e o mundo, ficou mais fácil cumprir o sentimento que passei a dedicar a poucos, mas com grande intensidade.
Não existe decepção capaz de abafar nossa capacidade de amar. Essa história de que “o amor me machucou muito, então agora não quero mais” é conversa mole pra boi dormir. Perdoe quem o magoou e, principalmente, perdoe a si mesmo pela frustração que um dissabor lhe causou, e toque o barco, que a vida segue.
Lamento por quem não ama, ou pensa que o faz, mas é mais raso do que uma poça d’água. Se todos soubessem dos milagres que um amor verdadeiro pode operar em nossa jornada, as máscaras seriam deixadas de lado e as atitudes seriam tomadas com mais responsabilidade e respeito. Porque fácil é falar. Difícil é fazer. E eu, modéstia à parte, faço. Do meu jeito, mas não deixo de tentar.

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