O dia sem 00:00

(liga a voz do Pedro Bial) Salve, salve, amigos do Que Momento! (desliga a voz do Pedro Bial) Após mais um feriado revigorante, retomamos os trabalhos quemomentistas da maneira mais light possível. Infelizmente, a semana inicia com a inóspita segunda-feira, algoz do humor de 73,98% da classe trabalhadora brasileira. Os outros 26,02% são aposentados e estudantes que estão de folga em virtude do dia do professor. Aliás, antes que o parágrafo termine, ficam aqui as minhas felicitações aos catedráticos do meu Brasil varonil. Sem vocês, muito do nosso saudosismo inexistiria (ou alguém aí não adora ficar contando histórias sobre aquele professor marcante da oitava série?).
Continuando a choradeira sobre segunda-feira: deveria ser proibido trabalhar nesse dia, pelo menos na parte da manhã. Com tantas leis inúteis sendo aprovadas, bem que poderiam favorecer o cidadão nesse sentido. Na sexta-feira, poderíamos parar também ao meio-dia, o que resultaria num dia a mais de fim-de-semana. Sem alterações no salário. E ainda bem que sonhar é de graça...
Bueno, eis que demos as boas-vindas ao amigo do trabalhador urbano nesse fim-de-semana: o horário brasileiro de verão. Divisor de opiniões, ele vale para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. Norte, Nordeste e na fazenda do meu avô, continuam com seus horários normais. Ele diz que, como as vacas não fazem horário de verão, é inútil alterar o relógio, o que não deixa de ser verdade. Deparo-me, então, com uma pitoresca cena no ambiente rural, a de dois relógios funcionando com horários diferentes, pelo menos até fevereiro. O das vacas, e outro para não perderem a hora da novela. Engraçado é ver meu avô sempre informando dois horários. “Agora é duas e meia, mas é uma e meia. Dez e quinze, mas já são onze e quinze.” E assim segue o dia todo.
A chegada do horário de verão marca o dia no ano em que não há meia-noite. De 23:59, passa direto para uma da manhã. No mínimo, traumático. Uma hora a menos de sono, uma brusca desregulagem (?) no relógio biológico e muita reclamação. Fico pensando em algum desavisado marcando um encontro na balada à meia-noite em ponto. O cara sai às 23:45 de casa e, mesmo assim, chega uma hora atrasado. Se a mulher não for lá muito compreensiva, corre o risco de perder o que poderia ser o relacionamento dos sonhos. Tudo isso apenas por ser desinformado.
Vislumbrem: o cara chega na balada e encontra a mulher possessa, de braços cruzados e batendo o pé no chão. “Tô te esperando aqui desde às onze, e já são uma e dez! Tá me achando com cara de palhaça, é?” Entre atônito (quase um anagrama do meu nome, por sinal) e surpreso, o cidadão perde a fala, derrama uísque na camisa novinha e balbucia qualquer tentativa de explicação, enquanto a mulher lhe dirige os últimos desaforos, antes de entrar num táxi e voltar pra casa chorando. Sim, é loucura, mas daria um bom conto.
Particularmente, gosto desse horário novo. Os dias ficam supostamente maiores e, pra quem sai do serviço às 18 horas, sai na verdade às 17 horas (relembrando, obrigatoriamente, meu avô). Com isso, e aliado ao calor pornográfico que faz em Novo Hamburgo no verão, fica bom de fazer umas caminhadas, ver a namorada, tomar um sorvete, jogar conversa fora, não necessariamente nessa mesma ordem.
Há quem não goste. Minha mãe, por exemplo. Talvez pelo fato hereditário, já que é filha do meu avô-relógio-humano. Ela alega lá seus motivos, mas nenhum me convence completamente. Ainda prefiro chegar em casa com o dia ainda claro e ver William Bonner desejando seu tradicional “boa-noite”.
O fato é que, gostemos ou não, nosso amiguinho está entre nós, até dezesseis de fevereiro de 2008. Há aquela frase que diz que “se você não pode com seu inimigo, junte-se a ele”. Sendo assim, sigamos o brilhante conselho da nossa estimada ministra Marta Suplicy. Pelo menos para o horário de verão, ele serve.

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