Deturpação

Teoricamente, hoje seria o dia da música da semana, porém, o ciclo menstrual desse blog anda um tanto desregulado, o que, aliado ao fato de não ter encontrado nenhuma letra que realmente me fizesse ter vontade de publicar, acabou jogando pra escanteio a nossa estimada canção “que momento” da semana.
Semaninha peculiar, por sinal. Ontem foi, felizmente, feriado, e hoje estou batendo cartão aqui na empresa, mais atirado que alpargata em cancha de bocha, esperando ansiosamente pela hora de ir para casa, calçar minhas chinelas, fazer aquela pipoquinha esperta e curtir um filmezinho bem tranqüilo.
Hosanas, aleluia, a sexta chegou. E lá se foi a metade de novembro. Aliás, feliz 2008 a todos, antes que eu me esqueça. É engraçado perceber o quanto o final de um ano assusta as pessoas. Todos boquiabertos e “bah, esse ano voou”! Por curiosidade, alguém pode me dizer um ano que tenha passado devagar? Eu, sinceramente, não recordo. E, digo mais: a mim não aflige em nada saber que 2007 está cruzando a reta de chegada, afinal, calendário foi feito para chegar em dezembro mesmo, não há como remar contra a maré. Além disso, posso olhar para trás com a consciência limpa, já que aproveitei este ano em seu máximo. Bom, isso é assunto pra balanço do ano, daqui a alguns dias.
Penso que o término de um ano assusta principalmente aqueles que gostam de deixar tudo para amanhã. Passam os dias planejando, projetando, teorizando, e nada de prática, de útil e de concreto. É claro que, ao apagar das luzes, a sensação que vai ficar é a de que não sobrou tempo pra fazer tudo e, conseqüentemente, a frustração de mais um ano perdido.
Some-se isso a outro fator que me deixa fulo da vida: a conversão em massa de corações solidários. Meu Deus, como as pessoas resolvem enxergar o próximo no fim do ano! Detalhe: só no fim do ano. Existe alguma diferença entre querer o bem de alguém em 25 de dezembro, ou 14 de julho? Até onde eu sei, nenhuma. Contudo, o apelo da mídia é tão forte, que o símbolo de bondade passa a ser Jesus Cristo nascido na manjedoura, juntamente com o generoso saco de presentes do Papai Noel. Uma semana depois, todos cantam abraçados e emocionados aquela musiquinha da Globo que diz: “hoje é um novo dia, de um novo tempo que começou...”
Ah, bom, tempo de recomeçar é só fim de ano? Essa, sim, é nova pra mim. Quer ser bom, vá fazê-lo o ano inteiro, e não apenas com a mesa recheada de um monte de guloseimas pra ceia, presentes de amigo-secreto e votos de feliz ano tal. Não quero aqui desmerecer as comemorações tradicionais de Natal e reveillon, confesso até que gosto muito de confraternizar. No entanto, me incomoda que isso seja passageiro, e que tanta gente esqueça que existem outros 363 dias para nos preocuparmos com o que está à nossa volta.
O cômodo está aí para nos tornar um bando de sacos de gordura, passivos com todas as barbaridades que vemos e brincando de fantoches nas comemorações de um ano que termina. Todo dia é tempo de recomeçar, de abrir um sorriso sincero, de desejar o melhor para o próximo. Se essa cultura fosse melhor difundida, certamente o dia 31 de dezembro teria um motivo ainda maior para se festejar: a consciência de que conseguimos viver nossa felicidade com muito afinco durante todos os meses que antecederam a dita confraternização.

Bom fim-de-semana a todos.

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