Gasp!

O pai lia o jornal tranqüilamente na sala, quando chega o filho de sete anos, olhar sorrateiro, como um gato, esperando o melhor momento pra pegar um passarinho:
- Paiê...
- Sim? – respondeu, sem tirar os olhos da página de esportes.
- O que é “foda”?
- GASP! – foi tudo o que conseguiu proferir, antes de engasgar-se com a balinha de menta que tinha na boca.
Atônito, o guri berrava e esmurrava as costas do pai, que, roxo e estupefato, beirava uma síncope no sofá. Depois de dez minutos e três copos d’água que o menino trouxe, conseguiu se recompor e responder:
- Bem... É um remédio.
- Para quê?
- Um relaxante, é isso. Um remédio que adultos usam para ficarem mais calmos, relaxados e felizes.
- Anti-depressivo?
- É, pode-se dizer que sim.
- Ah, bom... Então a vovó toma foda?
- NÃO! Quero dizer, não sei. Por quê?
- É que a mamãe disse que a vovó está com depressão.
- No caso dela, seria outro remédio, meu filho. Mesmo porque, para tua avó, esse remédio está em falta na farmácia. E agora deixa o papai ler o jornal sossegado, certo?
- Tá.
Cinco minutos depois, volta o guri, dessa vez lascando a pergunta sem titubear:
- Pai, e orgasmo, o que é?
Novo GASP, seguido de outras onomatopéias indescritíveis, mas, dessa vez, o menino fora esperto e já trazia consigo um copo d’água, juntamente com um comprimido:
- Toma, pai. Não sei se é foda, mas dizia “calmante” na caixinha.
- Não é isso que tu disseste. Só tua mãe me dá ele, e, mesmo assim, nem sempre tem em casa.
- Como assim?
- Deixa pra lá. Qual foi tua outra pergunta mesmo?
- Orgasmo. O que é?
- Ah, sim. É o efeito que o remédio que te expliquei antes causa.
- Hmmm... Então, quem toma foda, tem orgasmo?
- É, nem todo mundo, né, mas a maioria, sim.
- Ah...
E saiu o garoto, saltitante e feliz por mais um aprendizado. O pai, ainda tonto, tentava entender de onde o filho tinha tirado aquelas dúvidas tão pouco ortodoxas, já que nunca o ouvira falar nisso. Mal conseguira recuperar-se do segundo choque, veio o terceiro:
- E isso, pai, o que é?
Teve medo de erguer os olhos do jornal. E se o menino estivesse mexendo nas suas gavetas? Um sabonete de motel? A tão bem guardada caixinha de Viagra, usada somente em emergências? O que seria?
- Isso o quê, meu filho?
- Esse comprimidão aqui! Jô...jon...JONTEX!
Foi mais do que um GASP. Uma mistura de ARGH, COF e GASP, que resultou num sonoro GLARGCOF, arremessando a bala de menta na cara do ministro Guido Mantega, que estampava a página do jornal que ele lia:
- Passa isso pra cá, filho. Onde tu encontraste?
- No banheiro. É que faltou papel, aí abri a gaveta e...
- Ok, não vem ao caso. Sim, de fato, é um comprimido.
- E pra que serve?
- Para evitar dor de cabeça.
- Ah, bom. A mamãe sempre diz que tinha muita dor de cabeça quando eu estava na barriga dela. Por que o senhor não deu esse comprimido pra ela?
- Me faço a mesma pergunta todos os dias...
- Como?
- Nada, filhote. Vai brincar, vai. Me deixa ler o jornal, sim?
Passaram-se cerca de trinta minutos. O silêncio do menino fez com que ficasse fácil de terminar rapidamente o jornal. Com tanta quietude, o homem adormeceu no sofá. De repente, sentiu um leve puxão na sua calça:
- Paiê...
- O que foi? Não me diga que é mais uma pergunta?
- Não. É que eu estou preocupado.
- Com o quê? – espantava o tom de seriedade da criança.
- Com a mana... Ela tá lá no quarto com o namorado dela há umas duas horas. Já pediu três fodas pra ele, tomou quatro comprimidos daqueles JONTEX e só sabe dizer que não sente nenhum orgasmo. Será que não é ruim tomar tantos remédios assim?
O pai ficou roxo, verde-musgo, azul-índigo, estraçalhou o jornal, fez picadinho do ministro e emitiu uma espécie de GASP que a língua portuguesa desconhece. E voou um namorado porta a fora.

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