Desabafando

Sempre que eu tenho algum tipo de problema, pensamento negativo, ou qualquer crisezinha existencial momentânea, eu procuro direcionar meus pensamentos para coisas boas, tento refletir, analisar o que me incomoda e, rapidamente, resolver a questão, antes que ela se propague.

No entanto, hoje vou fazer diferente. Nada de resiliência, bancar o maioral, o forte. Ás vezes, cansa. Portanto, este texto não tem o intuito de receber parabéns, elogios, concordâncias, ou seja lá o que for. Aliás, nem encarem como um texto, encarem como nada. Querem saber? Encarem como quiserem, eu só quero é desabafar.

Nem sempre é legal parecer cheio de virtudes. As pessoas acabam te olhando como alguém especial, e isso cria uma espécie de pedestal inatingível que, convenhamos, não existe. Só porque o cara escreve sobre assuntos legais e otimistas, não quer dizer que a vida também não lhe pregue peças em determinados pontos.

Aliás, bem pelo contrário, quanto mais camufladas as fraquezas, mais difícil de resolvê-las. Há quem não perceba que, em certos momentos, também preciso ouvir, receber força, conselhos, declarações de afeto. Não sou uma fonte inesgotável de parcimônia e eloqüência, sempre com uma carta pronta na manga para resolver qualquer problema.

O fato de, vez por outra, enxergar a vida com outros olhos, de modo a não levar tudo tão a sério, não é sinal que minha auto-estima é inabalável e que eu também não tenha meus momentos de desânimo.

Eu nem chamaria isso tudo de ingratidão, seria injustiça da minha parte. Contudo, há uma tranqüilidade exagerada no que diz respeito ao meu temperamento por parte de gente que pensa que me conhece, mas não consegue identificar a hora em que eu também preciso de um ombro amigo.

Eu agradeço, firmemente, àqueles que estão sempre comigo, sou muito feliz com todos os meus amigos, familiares, enfim, pessoas especiais que me rodeiam. Mas, como todo ser humano imperfeito, também tenho meus momentos de solidão, onde, mesmo com tanta gente ao redor, às vezes os carinhos de uma em especial faz falta.

Conseguem visualizar? Eu, pelo menos, sempre tento observar e identificar a necessidade de alguém que gosto em receber um elogio meu, ou uma atenção especial. É claro, ninguém pode adivinhar nada, mas não custa fazer a tentativa. Prefiro surpreender positivamente, do que decepcionar pela omissão.

Eu não sou e nem quero ser perfeito, bonzinho e politicamente correto. Quero ser útil para os outros, ajudar a melhorar a vida de quem eu gosto, mas também gostaria muito que as pessoas se sentissem úteis para mim e percebessem que suas palavras podem, sim, fazer o meu dia mais ensolarado, mesmo no meio da maior chuva.

Não é porque o cara escreve textos, poesias e o raio que o parta, que qualquer outra frase mais simples não venha a comover e confortar. Escuto muito frases do tipo “eu não sei o que falar”, ou “eu não sei falar bonito que nem tu”, também já recebi muitas cartas iniciadas com essas palavras. O que as pessoas não percebem é que pouco importa o grau de cultura dos vocábulos, mas sim o sentimento que eles carregam. E, por mais que um olhar, ou um abraço, seja importante, ouvir os sentimentos materializarem-se em frases é ainda mais enriquecedor.

Pensei até em criar um blog anônimo e transformar num muro das lamentações, falar das minhas angústias, tentar resolvê-las escrevendo, mas me convenci de que não funciona, pelo contrário, só faria piorar. Preferi despir-me das vestes desse pseudo talento que atribuem a mim e que, convenhamos, não é mais do que saber articular meia-dúzia de frases. Saber escrever, meus caros, não é garantia de felicidade.

Sinto-me muito mais pleno quando estou com meus amigos, vendo-os cantar, talento que eles possuem infinitamente superior a mim, do que jogando as palavras no computador e publicando, ato este que eu considero apenas um mero passatempo.

Vaidade, para mim, é uma brincadeira simples. Já a necessidade de contar com as pessoas, uma urgência real. O que eu quero é só poder ser visto como mais um no meio da multidão, com suas qualidades e defeitos, sem especialidade nenhuma. Quem sabe, assim, o curso da vida siga sem tantos sobressaltos, por mais que eu consiga ultrapassar a maioria deles.

Se, às vezes, pensamos que o que dizemos não tem valor, percebam o quanto a ausência dessas mesmas palavras causa um grande vazio. Eu prefiro pecar por excesso, do que por omissão. Até mesmo desabafando.

0 comentários:

Postar um comentário

<< >>