RECURSOS NATURAIS

Chove lá fora. A chuva é um elemento da natureza que me agrada, ainda que seu acontecimento ofusque o sol na maioria das vezes, exceto naqueles dias perfeitos de verão em que chove e faz sol ao mesmo tempo. Gosto de observá-la, principalmente lá na fazenda, de uma das janelas da casa, enquanto todo o verde das plantas fica mais vivo.
Quando eu era pequeno, minha avó dizia que o balançar das plantinhas com o cair da chuva era um sinal de faceirice que elas demonstravam, já que o calor as tinha castigado e murchado por tantos dias. De lá para cá, sempre que vejo a água balançar uma planta, um pé-de-couve, por exemplo, me dá a impressão de que ela sorri.
Na cidade, a chuva em excesso acaba causando enchentes, alagamentos e uma porcaria total, em virtude da predominância do asfalto e poucos recursos para o escoamento da água. Aqui em Novo Hamburgo mesmo, bastam algumas horas de farta precipitação pluviométrica para que a água bata nas canelas em determinados pontos da cidade.
Ainda prefiro guardar na memória aquela imagem bonita do campo, em dias de pancadas de chuva de verão, que são as mais perfeitas que existem. Ela vêm com uma força contundente, afagam a terra, saciam as plantas e encerram o espetáculo com o reaparecimento do astro-rei que, refletido nas gotículas restantes nas folhas, forma um cenário admirável e visualmente inesquecível.
Faz tempo que não estabeleço uma analogia entre um assunto aparentemente corriqueiro e a vida, algo que era bastante freqüente em textos antigos. Mas, percebendo o barulho da chuva no telhado, minha sensibilidade comparativa ficou aguçada, e comecei a observar certos aspectos dos meus dias que assemelham-se a alguns fenômenos da natureza.
Viver nada mais é do que um equilíbrio climático. Frio demais, solidão. Calor excessivo, decepção. Se não chove, a terra fica seca e não gera proventos. Se acontece o contrário, tudo fica alagado e afogado.
Por isso, o auto-conhecimento exige que saibamos equilibrar nossos sentimentos e vontades com os fatores externos, como tempestades e impetuosidade solar. A partir disso, construímos as paisagens de nossos campos, pradarias, ou até mesmo uma metrópole urbanizada ao extremo, isso depende do que cada um idealiza e vislumbra em sua jornada.
Com a chegada da primavera, eu diria que meu inverno perdeu a força. Essa chuva que cai representa perfeitamente o quanto minha terra irrigada dará início à brotação de tudo o que planto e certamente tornará a paisagem muito mais bonita e colorida.
É importante ressaltar que, não fosse pelo frio exagerado, quem sabe eu não soubesse valorizar tanto os dias ensolarados pelos quais agora passo. As lições estão intrínsecas em todos os percalços que enfrentamos, e servem de alicerce para a chegada de dias melhores e uma nova estação, que traz consigo a alegria frutífera e a paz de espírito.
Ao mesmo tempo, também exercemos o papel de clima, ou podemos ser uma estação completa na vida do semelhante. Quantas vezes nossas palavras levam o calor do sol, ou irrigam o coração de alguém que estava enfrentando uma grande seca. Por outro lado, às vezes uma atitude impensada pode congelar um sentimento, causar uma grande frente fria e prejudicar toda uma plantação.
Cuidar do ecossistema é urgente, seja em relação ao planeta Terra, ou à paisagem estampada em nossa própria existência. Só com esmero e auto-estima é possível parar na janela, observar a chuva alegrar as plantas e, logo após, contemplar o espetáculo que o reaparecimento do sol traz.Bom, vou ficando por aqui. Agora vou ali na minha janela, que tá saindo um belo arco-íris...

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