Reflexões de alguém que está há muito tempo sem escrever...

Ultimamente, tenho sentido uma ponta de inveja de quem escreve textos brilhantes. Tá, não é só uma ponta, é muita inveja. Um caldeirão fervente e borbulhante que pulsa a cada frase magnanimamente elucubrada por um cérebro mais evoluído que o meu nesse momento, ou propenso a dirimir sua criatividade dissertando sobre os mais diversos assuntos.
Eu, cá, ando mais parado que água de poço. Contudo, brasileiro que sou, quero crer que também não desistirei nunca, pelo menos por enquanto. Enlevado, portanto, pela incólume e fortuita vontade de escrever a esmo, sobreponho a hierarquia que nomeia a inspiração como passo primordial para a construção de um texto e venho até aqui simplesmente blaterar.

Hoje, caríssimos, é o último dia da primeira metade do ano, o que significa dizer que amanhã já estaremos no segundo semestre deste catatônico dois mil e nove. Constatei isso, brilhantemente, há alguns dias.
É válido dizer que nos últimos seis meses aconteceram muitos fatos relevantes em meio aos meus bucólicos dias. Muitíssimos, arrisco a dizer, pois acredito que a situação realmente permite um superlativo. Todavia, diria que a maior parte desses fatos, pelo menos para quem acompanha este blog, não traria qualquer acréscimo se compartilhada. Alguns, por sinal, são particulares e impublicáveis.
Dos partilháveis, diria que uma vasta gama, para meu desgosto, é triste. Uma vez que não pretendo transformar meu doce espaço num muro das lamentações, quase sempre opto pelo silêncio. Já as tradicionais histórias cômicas do meu cotidiano, para minha desgraça literária, deixaram inúmeras vezes de serem externadas por falta de tempo, criatividade e/ou preguiça. Uma verdadeira lástima.

Recorro então à subliminaridade para tentar encontrar a luz no fim do túnel, pelo menos no que tange a meu amado, idolatrado, salve, salve, blog. Isso significa que certos acontecimentos realmente precisam ser externados, ainda que a grande maioria - ou mesmo ninguém - entenda nada do que aqui é publicado. Serve, unicamente, para que eu, quando daqui a alguns meses voltar a ler o que escrevi, entenda o que passei e conclua se houve ou não crescimento.

Hoje cometi meu primeiro erro patético lá onde trabalho. Já errei várias vezes nesses quatro meses em que estou lá, mas quase sempre os equívocos ocorreram porque eu não sabia como proceder e, no escuro, arriscava uma tacada kamikase. O de hoje, porém, foi o que se pode chamar de uma legítima cagada, se me permitem o vocabulário chulo.
E, meus amigos, nessa epopéica auto-análise que é minha vida, descobri que sou um cara que se cobra muito, principalmente quando cometo erros infames. Até agora, sinceramente, não me perdôo pela falta de atenção que tive. Lembro que cansei de perder décimos valiosos nas provas de matemática porque tinha preguiça de revisar os exercícios e acabava esquecendo um sinal de adição ou subtração no resultado final. Os professores, benevolentes, apenas circulavam o erro e descontavam pouco da minha nota final. Tolos! Deviam me açoitar acintosamente, berrando aos quatro ventos palavras de ordem como "seu cretino, como pôde esquecer um sinal, um simples sinal!", e quem sabe assim eu tivesse aprendido a prestar mais atenção às atividades que exerço.
Esse foi o mal de estudar em colégio de freiras, onde certamente a agressão física a um aluno resultaria na expulsão do catedrático e um processo nas costas que mancharia para todo o sempre a carreira do profissional.

Bem, mas voltemos à minha solitária auto-avaliação psicológica. Aliás, sobre isso, cabe dizer que não tenho o menor interesse em procurar ajuda profissional. Deveria, é bem verdade, talvez um psicólogo gabaritado pudesse elucidar certas dúvidas que permeiam minha imprevisível mente. De qualquer modo, além de não dispor de verba sobrando para tal, tenho convicção de que ninguém é capaz de me conhecer melhor do que eu mesmo, que já me aturo há intermináveis 23 anos e, que surpresa, convivo comigo diariamente, ou seja, tenho informações suficientes para bancar meu próprio analista e, ainda que vagarosamente, resolver todos os impasses que me impedem de ser uma pessoa melhor.

Mudei muito nos últimos tempos, é bem verdade. Alguém dirá que estamos sempre em plena mudança, evolução e blábláblá, argumento com o qual até concordo. Porém, quando afirmo que mudei, não é como Raul Seixas, que cantava brilhantemente sobre ser uma metamorfose ambulante e moldar as próprias idiossincrasias de acordo com o passar do tempo. Falo de mudar mesmo, sofrer praticamente uma mutação, mutilação ou reação psíquica na personalidade, algo que certamente levaria bons anos para um Darwin da vida explicar propriamente como evolução, ou ausência dela.
Isso não significa dizer que sou uma pessoa diferente, e aí é que mora o mistério. Ou o perigo, vá saber. Para muitos, continuo o mesmo, ainda que me olhe no espelho e já não enxergue mais o cara que um dia fui. Acreditem, explicar isso é realmente complicado e só não está saindo fumaça da minha cabeça nesse momento porque acredito ser essa reação algo impossível, apesar de perfeitamente plausível diante da situação em que me encontro para tentar escrever a respeito.
Não posso dizer que mudei pra pior, seria injusto. Apenas deixei de lado algumas atitudes e incorporei outras pouco cogitadas em tempos passados, mas que hoje fazem parte da minha rotina. Dizer que me tornei um insensível seria uma retumbante mentira, uma vez que ainda me emociono com propagandas do Zaffari e outras de qualque marca de margarina, no entanto é possível observar que já não nutro mais o mesmo romantismo de que um dia já fui totalmente imbuído. Em outras palavras, os sentimentos já não são mais tão claros para mim como foram outrora.
Essa fase de redescobertas, classifiquemos assim, gera, como na meteorologia, uma certa área de instabilidade, com possibilidades de pancadas de chuva e nevoeiro. A partir daqui fica complicado acrescentar informações, até porque penso que já me expus o suficiente para esse assunto.

Permitam-me, já que o texto tá mais perdido que cupim em metalúrgica mesmo, voltar ao meu degradante erro cometido no trabalho hoje. Ou melhor, à auto-cobrança que ele desencadeou. De tão inconformado com meu débil esquecimento, acabei trazendo a lambança para o lado pessoal, emocional e sexual (tá, esse último é brincadeira, só acrescentei pra rima ficar mais firme).
Nunca tinha parado para pensar no quanto detesto cometer erros primários. Sempre me considerei tão complacente, auto-conivente com meus deslizes, por assim dizer, que não tinha refletido sobre o sórdido ato de falhar.
E, puxa vida, mesmo sendo meu psicólogo particular, como foi difícil me convencer de que teria de manter a calma, afinal de contas, é fazendo merda que se aduba a vida. Levei, sem mentira, cerca de cinco horas para me convencer de que, realmente, eu havia cometido um equívoco infantil, desnecessário e produto de minha pura e deslavada falta de atenção.

Perdoei-me, meus caros. Alguns dirão que lá em cima, nos primeiros parágrafos, eu me contradisse, afinal de contas, escrevi que ainda não me perdôo. Contudo, não sou Jesus, mas também em verdade vos digo, perdoei-me enquanto escrevia esse texto. Aceitei minha limitação, confrontei meu problema comigo mesmo, encarei-o no grão dos olhos e disse: vem contra, fia da puta! E o danado se foi. Como numa sessão de exorcismo, expulsei esse demônio que me atormentou o dia todo, concedi-me a remissão desse pecado operacional e, oxalá, sou uma pessoa melhor a partir de agora.

É por isso que eu não consigo viver sem escrever. Mesmo que seja sem rumo, sempre termino um pouco melhor do que era quando comecei.

Que momento.

6 comentários:

  1. Escrever, falar com você mesmo, sempre melhora!....

    Grande Abraço!
    Fica com Deus!

    e sabe né! brasileiro! nunca desiste mesmo, bando de bixo teimoso! kkkkk

    o/

    ResponderExcluir
  2. Antóóóniooo! Voltei a te ler, meu querido amigo blogueiro!
    E sabe que também ando sentindo inveja (confesso, uma inveja boa) dos textos "inspirados" que leio nesses blogs por aí?
    Minha falta de inspiração é tanta que ontem estava pensando em um assunto novo pra escrever, abri minha caixa de emails e me deparei com um texto ótimo da Martha Medeiros. mas... foi na hora um "ctrl+c e ctrl+v", hehe
    Bom, mas adorei o teu post, tu vê o que a falta de inspiração faz né? Uma "misturança" de assuntos gostosa de ler mesmo! hehe
    E a frase "fazendo merda que se aduba a vida" é a mais certa! Também ando num momento desses! hahaha
    Beijão querido

    ResponderExcluir
  3. E eu sempre passo por aqui e fico tão triste quando não tem algo novo. Tanta saudade de quando te lia todos os dias, lá pelas 10horas da manhã, logo quando publicavas teus textos...

    Ô meu amigo, algumas coisas da vida, realmente nos transformam em pessoas diferentes. Não piores, apenas diferentes. Talvez mais maduros. Não sei ao certo.

    Espero que estejas bem. Sinto saudade de tu e sempre penso "como será que está o Antônio?".
    Ah! E estou indo pra o Rio grande esse mês, e, como combinei com Marquinhos, vou passar por aí e espero que dê pra gente se encontrar, visse?

    Um beijão pra tu

    ResponderExcluir
  4. E você fala, fala, fala, conta história, reconta, volta a contar outro equívoco e assim vai.

    As frases magnanimamente elucubrada por um cérebro mais evoluído são foscas perto do teu humor do dia-a-dia, Tom!

    ResponderExcluir
  5. Obrigada por voltares a escrever! Senti falta dos teus textos, pois eles alegram o meu dia. Depois que olho meu orkut vou para o teu blog e fico triste quando não tem nada de novo porque parece que meu dia fica incompleto. Continua escrevendo... tu tens inspiração, sim, e não se cobre muito. Não somos infalíveis, meu querido.Um carinhoso beijo.

    ResponderExcluir
  6. "É por isso que eu não consigo viver sem escrever."


    nem eu!
    ;D

    ResponderExcluir

<< >>