O moço dessa foto 3x4

Na vida, há coisas que fazemos bem, e outras que não fazemos bem. Além disso, existem também aquelas para as quais realmente não prestamos. No meu caso, isso se aplica a fotos três por quatro, essas malditas fotos minúsculas que insistem em realçar todos os defeitos da minha defenestrável face. Aliás, se existe a tal maçã do rosto, as tirivas comeram a metade do meu.
A prova do que estou falando é que, desde que uso aparelho ortodôntico - cerca de um ano e oito meses - ainda não havia tirado um desses retratos. Porém, como sempre chega o momento em que é inevitável fugir dos problemas, precisei submeter-me à inóspita prática. Por motivos trabalhistas, tive de posar para esse pouco aprazível momento.
A salinha onde aconteceu o crime me fez recordar Jogos Mortais. Apenas uma luz forte focava a parede e logo à frente havia um banquinho solitário à espera da próxima vítima. Além disso, apenas a guria com aquele trumbico enorme para tirar a foto e um guarda-chuvinha que, sinceramente, até hoje não descobri a finalidade. Aliás, em pleno advento das câmeras digitais do século XXI, alguém sabe me responder porque ainda usam aquele lambe-lambe para fotos tão pequeninas? Garanto que o poder de intimidação daquela bigorna influencia diretamente no resultado final que, no meu caso, não seria bom de qualquer jeito.
O legal é que, em virtude do mesmo advento, tudo fica pronto em questão de minutos. Ou seja, ainda anestesiado pelo pavor da salinha maléfica, o vivente toma uma bordoada nos beiços ao contemplar o quadro da dor na moldura do desespero quando visualiza sua fuça estampada num quadradinho minúsculo que lhe acompanhará por vários documentos vida afora. Fui orientado a aguardar ao lado de fora da salinha do crime (ainda bem!) e prostrei-me ali, sorumbático.
Bem, o resultado não poderia ser outro: tenebroso. Confesso que, ainda assim, fiquei surpreso, pois esperava algo desajeitado e estranho, mas a feiúra superou minha baixa expectativa. Ao receber o pequeno calhamaço de oito fotos, tentei, em vão, procurar alguma diferente, que pudesse sanar minha decepção. Porém, ai de mim, eram todas iguais. A guria clicou setecentas e doze vezes, empinou meu queixo, enquadrou meus ombros, puxou daqui, esticou de lá, e o resultado foi o pior possível, virei num mosaico humano. Até notei que, discretamente, ela ofereceu espelho, gel e pente para que eu me ajeitasse, talvez numa última tentativa de melhorar o meu judiado semblante. Contudo, em pleno horário de almoço, tudo o que eu conseguia pensar era na fome que estava sentindo. Talvez por isso tenha saído com cara de almôndega.
O primeiro fator que identifiquei nas fotos me fez lembrar uma moda de viola que, a certa altura, versa mais ou menos assim:

"Não tenho grande estatura,
nem tanta musculatura,
sou carente de gordura,
sou fino que nem palito."

De fato, emagreci alguns quilos ultimamente, o que, por sinal, não era visto por mim como algo ruim. Não foi o que as lentes disseram. Se alguém já jogou Killer Instinct, visualizem o Spinal; se não conhece o jogo, pense numa caveira. Dá no mesmo.
O cabelo, desgrenhado, provou que, sem gel, não sou ninguém. Essa maravilha da indústria cosmética é a única maneira de disfarçar o punhado de bombril preto que conservo acima da cabeça, parecendo um arbusto de xaxim, ou algo que o valha. Pra baxeiro até que serve.
Agora, quem merece um parágrafo especial são minhas sobrancelhas. Em vinte e quatro anos de vida, a única pessoa que vi elogiá-las foi a vó Dilma. Bem coisa de vó, né, vamos combinar. Pelo amor de Deus, são duas taturanas acima dos meus olhos! Sei lá se Deus errou o lugar do bigode, mas o fato é que há um Olívio Dutra cobrindo cada uma de minhas vistas, é terrível. Quase passei errorex naquela porcaria, tive que respirar fundo. Um dia ainda vou descobrir a serventia das sobrancelhas. O Homem tava de porre quando inventou essa pegadinha, só pode ser.
Por último, mas nem de longe menos pior, vem a boca. Ou melhor: o beiço. Até que minha boca é legalzinha, o desenho dela já teve lá seu sucesso e talicoisa, só que é praxe eu sair beiçudo em fotos três por quatro, não há escapatória. Sei lá o que me dá, mas minha expressão séria é deveras sisuda, ainda mais num momento de tanta felicidade quanto este. Ao contemplar (?) o resultado das fotinhos, meu primeiro pensamento foi "é, eu realmente tô triste". Merda, né, vou carregar isso comigo até fazer seis documentos, fichas de inscrição ou encontrar algum doido que queira aquilo como recordação do meu ignóbil ser.
Queiram Deus e as entidades trabalhistas que tão cedo eu não precise voltar àquele lugar. Foi traumático, doloroso e decepcionante. Além disso, oito fotos custaram nove e cinquenta. Me lembrou "oito picolés por apenas um real". Tanto pela aliteração do texto, quanto pelo fato de ambas as situações serem aguadas, não valerem o quanto custam e, principalmente, constituírem um caráter absolutamente dispensável. Desse jeito, é mais do que natural que se busque outra opção.

3 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkk...
    Descreveu como eu me sinto ao me ver nas fotinhos. Sem as taturanas, mas com olheiras de panda!
    Certa feita, saí do estabelecimento com a nítida impressão de que estava com caxumba. E dos dois lados! hahahaha...

    Beijo, guri.

    =)

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...
    nunca soube se 3x4 prestava!!!

    adorooooo!!!
    bjo

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  3. Eu queria saber porque não podemos simplesmente cortar uma foto na qual ficamos bem... É realmente torturante tirar a famosa foto pequenininha... Confesso que a última que tirei foi em 2006 e desde então uso a mesma.

    Olha, imaginei um pouco da foto e me entristeci ao perceber a tua tristeza... Sei que não acaba, pois há feridas que não acabam nunca, mas espero te ver melhor!

    Um abraço da amiga pernambucana que logo vai morar aí pertinho!

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