Bala de canhão

"Stones taught me to fly (Pedras me ensinaram a voar)
Love taught me to lie (O amor me ensinou a mentir)
Life taught me to die (A vida me ensinou a morrer)

So it's not hard to fall (Assim, não é difícil cair)
When you float like a cannonball (Quando você flutua como uma bala de canhão)"

(Cannonball - Damien Rice)


Fosse antigamente, eu criaria inúmeras teses para o que ocorre comigo. O tempo, porém, ensinou-me a simplificar, principalmente porque aprendi que foram minhas complicações teocráticas absolutistas que botaram a caçada no mato durante todos esses anos. Agora, depois de tantos quilômetros rodados, está incrivelmente fácil de admitir as reações da forma mais límpida possível.
Já ouvi falar em pedras que rolam, ou Rolling Stones; pedras que cantam, na voz de Raimundo Fágner; contudo, pedras que voam foi a primeira vez. E me soou tão bem o trocadilho... Porque, sabe, eu me sentia pesado, modorrento feito uma rocha sem a mínima imponência. E, de súbito, flutuei. No fundo, sabia que isso aconteceria, sonhei todos os dias com esse momento. Bastou ele chegar, voei lépido e faceiro feito uma pena.
Não preciso mais mentir, entende? Claro que sim, quantas vezes tu fez isso, né? O amor ensina a gente a mentir por amor. Mesmo que o outro saiba a verdade e pergunte por uma questão de educação, quem sofre sempre salvaguarda-se de um "vou bem, obrigado" para evitar o desgaste de admitir que descobriu subsolo no fundo do poço. Quantas vezes fiz isso, quantas! Mentia, omitia meu estado cadavérico, tudo para não te importunar e passar a falsa impressão de alguém que estava tentando reconstruir sua vida. Bobagem! A vida sempre foi contigo, o alicerce, a base, seria inútil tentar começar do zero. Hoje, felizmente, não preciso mais mentir ensinado pelo amor, pois posso apenas amar. Tu já me libertou, e eu agradeço.
Sabe, depois de todos esses anos, concluí que sempre fui exatamente como uma bala de canhão. E ainda sou. No entanto, com características diferentes. Antes dos últimos tempos, quem reinava era a impulsividade, a explosão e, por consequência, os estragos causados. Jamais negarei minha responsabilidade sobre o que não foi bom. Ainda assim, tenho de fazer disso uma lição, ao invés de sucumbir à culpa, concorda?
Por isso, continuo sendo a mesma bala, só que agora conservando a força, a certeza do objetivo, o peso do sentimento. O tiro agora é certeiro, não há espaço para erros cabais, infantilidades e outras características mesquinhas que, graças a Deus, foram embora. Ficou a impressão que tu mesma descreveu com tanta maestria, devolvendo a leveza que mencionei alguns parágrafos acima: responsabilidade e determinação. Esse sou eu agora, comprometido com a verdade de meus sentimentos, sem importar os obstáculos, percalços, crises, venha o que vier. É contigo que eu quero ficar, viver, voar e amar. Nunca disse isso com tanta convicção, com tanta força. Parece até uma... bala de canhão.

7 comentários:

  1. Exatamente, Antônio! Que o tiro seja certeiro, direto no alvo do que vale a pena!

    Sempre bom passar por aqui.
    Um abraço

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  2. Antonio...
    teu texto - maravilhoso - (queria receber um assim um dia) me lembrou uma música:

    "Sei lá que bicho me dá
    sei lá pra onde eu atiro,
    seu alvo mexe toda vez que eu te miro" - Luiza Possi

    Atualmente não sou um alvo fácil, ando me desviando Rs ... porque Às vezes doi muito ser "acertada" hehe

    Bjos

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  3. Que lindo Antonio!
    Queria ser alvo de alguém tão certeiro quanto tu.

    Parabéns!

    Beijo, moço!

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  4. Me desvio tão facilmente de meus alvos que começo a me sentir mais como uma pena que flua com o vento sem um rumo real. Achei o seu texto lindo, acho que o melhor dos que eu li, com certeza o melhor.

    A postagem coletiva tem essa mágica de mostrar como somos diferentes ao interpretar um mesmo trecho, adorei sua interpretação. Beijos, Mel

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  5. Vivendo e aprendendo, meu caro! É assim que é... e é assim que tem que ser.

    Gostei.

    Beijo.

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  6. É isso aí, nada melhor q a convicção!!!
    Adorei!
    A proposito: Cannonball do Damien Rice é TUDO!

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  7. Vem ca, meu pedaço de brancura, estás a falar DELA, tche?!
    o_O
    O_O
    :o

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