La casa cayó

Minha vida é de poucas certezas. A cada ano que passa, se tem algo que posso afirmar com propriedade, é que os janeiros não só branqueiam os cabelos, como também possuem o poder de desfazer inúmeros conceitos outrora fortemente enraizados em minha personalidade. Ou seja, um nome bonito para teimosia. Quem me conhece dirá que estou sendo falacioso, uma vez que ainda sou bastante contumaz para muitas coisas, mas posso afirmar que estou trabalhando para desconstruir uma série delas.
"Teimoso é quem teima comigo", dirão os cabeças-duras de plantão. E não estão errados. Nada pode ser pior do que entrar em rota de colisão com alguém que não está a fim de ceder. O melhor remédio nessas horas é permitir que o tempo se encarregue de amolecer o coração do vivente. Recordo vivamente de quando minha avó comprou seu primeiro televisor. Meu avô achou um absurdo, sentava de costas para a TV ligada. Atualmente, chega a dormir sentado assistindo às novelas. Lembro ainda de quando a luz elétrica chegou lá no interior de São Francisco de Paula, o ano era 2005. O vô evitava ligar as luzes à noite, tomava banho no chuveiro frio, era uma resistência em admitir que os tempos haviam mudado. Agora, já com oitenta e tantos anos, é o primeiro a ligar para a companhia de energia elétrica quando há queda de luz, fica todo nervoso.
Essas minhas introduções aparentemente aleatórias são sempre fruto de um rodeio necessário de forma a envolver você, leitor amigo, parceiro e fiel, que mesmo após todos esses anos ainda se presta a ler meus textos imensos e prolixos. Preciso destes dois parágrafos acima para criar a coragem de colocar a mão no coração e fazer o mea culpa dizendo que, sim, a teimosia é hereditária e corre nas minhas veias não só por parte do meu avô materno, quanto também — e principalmente — pela parte do finado Gentil Dutra, que Deus o tenha. Este sim, um baluarte na arte de teimar, uma vez que faleceu agarrado em todos os seus dogmas sem desfazer-se de unzinho sequer. Apesar disso, era uma pessoa fenomenal.
Pois bem, eis que na última semana tombou mais uma de minhas sacripantas resistências. Estava em casa debalde, ouvindo os passarinhos cantarem uma bela canção, quando resolvi fuçar no Netflix para achar algum filme. Eu disse filme. Até então, só gostava de filmes. Vejo Deus e o mundo falando em séries, greizanátome, breiquinbéd, gueimeoftróns, e se descabelando pelas temporadas a serem lançadas... cara, isso me dava uma preguiça. Por isso os filmes: assistia ao começo, meio e fim. Ces't fini. Nada de angústia, nem curiosidade.

DAÍ.

Ô, palavrinha ingrata. Daí que eu vi um título que chamou a minha atenção: La Casa de Papel. Se eu parasse o texto por aqui, todos vocês já teriam uma boa compreensão de todo o resto da história. Cliquei no título e... gol da Alemanha. Assisti ao primeiro episódio com certa empáfia, bem capaz que vou viciar nesse troço. Porém, por capricho e artimanha do destino, quis ele que eu me deixasse fisgar por uma lista de peculiaridades que, noves fora, me deixaram de quatro em questão de minutos.


Pra começo de conversa, a série é espanhola. Tenho um certo ranço com enlatados americanos, mas antes mesmo que vocês passem a me chamar de teimoso, já admito que vou rever este conceito em breve. Mas o fato é que o sotaque ibérico me afrouxou as canelas, fiquei muito à vontade não precisando ler as legendas o tempo inteiro e, a bem da verdade, a interpretação de todos os atores fica muito mais charmosa em espanhol.
Em segundo lugar, a trama tem um ar novelístico que faz tum-tum no coração. E eu, que nas horas vagas ponho para tocar trilhas sonoras de novelas dos anos 90, senti uma gota de suor gelado correr pelas minhas têmporas ao passo em que, emocionado, embebia-me com o show de surpresas que cada episódio reservava.
Assisti do primeiro ao quarto episódios e dei um basta, fui pra rua capinar minha horta de tomates. Não é possível que vá viciar numa série do Netflix, isso jamais aconteceria comigo e... meia hora depois estava vidrado assistindo ao quinto episódio. E o sexto. E o sétimo. Até que a Dani chegou em casa e dei uma disfarçada.
Ao mínimo sinal de ela e a Lara irem para a cama, voei para a frente da televisão e devorei o oitavo episódio. Isso já era mais ou menos meia-noite. Assisti ao nono e ao décimo como se não houvesse amanhã. A essa altura, meu coração palpitava a cada nova revelação, as mãos transpirando, totalmente absorto na trama.
Quando acabou o décimo primeiro episódio já eram quatro da manhã. Caí na vala comum. Estava ali devorando uma série, tarado pelos personagens, torcendo para os bandidos, SIM, SIM, VOCÊ TORCE PARA OS BANDIDOS, e meio que falando em espanhol, la puta madre, pegando os trejeitos do Professor, vou parar de ficar falando porque sou meio que campeão de spoilers pela vida a fora (sei que minhas amigas do ASSV neste momento recordarão meus deslizes nos comentários).
Toda vez que eu imaginava que era o último episódio, vinha mais um. Fui até o computador e espiei quantos faltavam. Só mais dois. Quatro da manhã. Ah, cara, quer saber? Tá no inferno, abraça o capeta. Fiz um kissuco, uma pizza e terminei de assistir. Como dizem na fronteira, foi-se a gata com a cinta.
Gente, assistam. La Casa de Papel é simplesmente genial. Tenho lido alguns fóruns e as pessoas obviamente adoram achar defeitos, mas eu como bom noveleiro que sempre fui não fico procurando erros, bem pelo contrário, gosto mesmo é de exultar com o que tem de bom. E, se tem algo de bom nessa série que me deixou completamente maneado, é um SÓSIA DO GAÚCHO DA FRONTEIRA. Cara, o Moscou é igualzinho a ele! Todo mundo fala dos outros personagens, mas o meu preferido é o Moscou, o Moscou é demais, ele me faz lembrar a gauchada, MOSCOU É O RIO GRANDE DO SUL EN LA CASA DE PAPEL, SEÑORES!


Separados na maternidade: Moscou e Gaúcho da Fronteira.

Pois bem, como vocês já puderam verificar, este foi um relato para me despir de uma teimosia boba, e agora sou mais um aficionado por séries do Netflix. Podem deixar indicações nos comentários, riam da minha cara, não tem problema. Quanto mais distrações eu tiver nessa hora, melhor. Porque, tenho que confessar a vocês, tá muito difícil viver até o dia 6 de abril. É quando sai a segunda temporada. Risos.

2 comentários:

  1. EU NÃO CONSIGO PARAR DE RIR! Não é da sua cara, migo (só um pouco) e não é porque é um texto com um caso muito engraçado (tá bom, você se entregando a uma série é um pouco!), mas é porque TIVE que parar quando começou a falar da série porque um sinal de alerta começou a zumbir no fundo da minha cabeça: ALERTA SPOILER!!!! ALERTA SPOILLER!!! ALERTA! ALERTA! É CILADA, BINO!!

    hahahahhahahhahahahhahahahhahahaha

    Após conferir com você se seria uma Segunda Temporada de Um Dia (choro até hoje por este spoiller, aliás), segui a vida e voltei a ler! Afinal, já estamos vacinadas, não é mesmo?!

    Ton, cê sabe que noix é tudo as loca das séries e você ficava todo de fora nos comentários de Greizanátome, mas, que alegria te ver se entregando assim, de corpo e alma a uma série. Agora já pode fazer parte do nosso camarote! hahahahahhahaha

    La Casa de Papel o mundo só fala disso né, mas estamos viciados em Scandal, mas a próxima é ela.

    Indicações: Scandal, Suits, Narcos, House of Cards, Sherlock...

    Bem vindo ao clube, até a próxima temporada!

    Ps: podemos te dar as dicas de ver em sites alternativos, porque se não estou enganada, já tem segunda temporada por aí. :)

    ResponderExcluir
  2. Realmente... Ao invés de "Moscow", o apelido dele deveria ser ou Buenos Aires, ou Montevideo ou Porto Alegre

    ResponderExcluir

<< >>